TESTE 2023 - Revolta e Esperança: teoria, história e decisão política
YONI CROCIATTI, Juventino Santos, Marcelina Amaral, Filoncio Rodrigues
Jornal Contemporâneo - São Paulo - SP - Brasil
A história contemporânea sugere que Karl Polanyi tenha razão: os grandes avanços da internacionalização capitalista promovem grandes saltos econômicos e tecnológicos, mas ao mesmo tempo aumentam geometricamente as desigualdades na repartição da riqueza entre as nações e as classes sociais. E como consequência, no final dos grandes “ciclos de globalização”, aumenta e generaliza-se a insatisfação das grandes massas, e multiplicam-se as revoltas sociais e reações nacionalistas, ao redor do mundo. O que ele chamou exatamente de “duplo movimento” das sociedades de mercado. Mas se isto parece ser verdade, não é verdade que estas “inflexões reativas” tenham sempre um viés progressista ou revolucionário. Pelo contrário, elas nunca foram homogêneas, e podem tomar direções radicalmente opostas, sendo impossível deduzir teoricamente e prever de antemão a orientação ideológica e o desdobramento concreto que tomará cada uma destas revoltas, e destas explosões nacionalistas.
Basta olhar para o que aconteceu nas primeiras décadas do século XX, quando as grandes massas saíram às ruas de toda a Europa, como reação contra o aumento da desigualdade e da miséria que cresceram à sombra da acelerada internacionalização capitalista das últimas décadas do século XIX, ao que se somaram as catástrofes sociais provocadas pela Primeira Guerra Mundial, pela Gripe Espanhola, e pela crise financeira e econômica que começou no final dos anos 20 e se prolongou até o início da Segunda Guerra Mundial. E logo se constatará que a revolta social e a explosão nacionalista daqueles anos, assumiram formas muito diferentes, e as vezes diametralmente opostas, em distintos países, e por vezes, dentro de um mesmo país.
Neste período, a polarização das classes e das nações e o aumento generalizado da miséria contribuíram para a explosão de inúmeras revoltas e/ou revoluções comunistas, na Alemanha, na Hungria, na Polonia, na Itália, na Espanha, na Rússia e em vários outros países, dentro e fora da Europa, incluindo evidentemente a Revolução Soviética, em 1917. Mas neste mesmo período, esta mesma miséria, e esta mesma polarização entre as nações, contribuíram igualmente para a multiplicação de outras tantas paralelas de tipo “fascista” ou “nazista” que se multiplicaram por toda a Europa, alcançando sua trágica vitória na Itália e na Alemanha, mas também em Portugal e na Espanha, onde os fascistas se mantiveram no poder durante 40 anos, mesmo depois da IIGM.