Introdução: A despeito de terapias efetivas, hipertensão arterial sistêmica (HAS) e asma são pobremente controladas na população. A falha no reconhecimento de HAS em pacientes inseridos no sistema de saúde deve refletir fatores subjacentes ao controle inadequado da asma.
Objetivos: Avaliar a associação entre o subdiagnóstico de HAS e o controle dos sintomas respiratórios em adultos asmáticos
Metodologia: estudo transversal em asmáticos referenciados para espirometria (serviço público). A pressão arterial (PA) foi aferida automaticamente, segundo as diretrizes. O Teste de Controle de Asma (ACT) foi utilizado como instrumento de avaliação dos sintomas respiratórios. Diagnósticos prévios foram obtidos por relato do paciente e análise de prescrição.
Resultados: Entre 593 participantes (56±16 anos; 66% de mulheres), 279 possuíam HAS conhecida e outros 76 indivíduos apresentaram PA ≥ 140 x 90 mmHg sem histórico de HAS. Na comparação com HAS prévia, hipertensos ocultos eram mais jovens (54±10 vs 64±10 anos; p < 0,001); tinham mais anos de estudo (9±5 vs 7±5 anos; p = 0,001); eram menos obesos (IMC = 29±6 vs 32±6 kg/m2; p = 0,001); e menos frequentemente tabagistas (49 vs 62% de tabagistas atuais ou prévios; p = 0,036). Conforme esperado, apresentavam maiores valores de PA sistólica (146 ±12 vs 139±21 mmHg; p = 0,008) e diastólica (91 ±10 vs 83±11 mmHg; p < 0,001) em comparação aos pacientes tratados. Não houve diferença de gênero (p = 0,785). A HAS oculta esteve associada à prevalência menor de diabetes (11 vs 36%; p < 0,001); insuficiência cardíaca (0 vs 7%; p = 0,019); doença coronariana (1 vs 8%; p = 0,046); arritmias (0 vs 8%; p = 0,014); e dislipidemia (15 vs 42%; p < 0,001). Houve menores valores do ACT no grupo com HAS oculta, denotando pior controle dos sintomas de asma (18±5 vs 20±5; p = 0,012). Na análise dicotômica, classificação dos sintomas como não controlados (ACT < 20, ou < 3 pontos em quaisquer das três primeiras perguntas) foi mais frequente no grupo com HAS oculta (63 vs 49%; p = 0,03). Um modelo de regressão logística, ajustado para as diferenças significativas na análise anterior, mostrou associação independente entre HAS oculta e pior controle sintomático da asma (ACT).
Conclusão: O subdiagnóstico de HAS em adultos asmáticos ocorre sobretudo em pacientes com menos comorbidades. Menor intensidade de assistência à saúde nesse subgrupo e/ou fragmentação excessiva (especialização) dos cuidados ofertados são explicações plausíveis para a associação de desfechos negativos relacionados à HAS e asma.