Resumo: Aproximadamente 15 % dos pacientes saudáveis apresentam arritmias ventriculares (TV) com um amplo espectro de gravidade e apresentações clínicas. Na grande maioria dos casos, um substrato anatômico e/ou uma cardiopatia estrutural estão presentes nesses pacientes. Contudo, a ausência de cardiopatia estrutural é uma realidade e não deve ser negligenciada. As arritmias cardíacas, como a taquicardia sinusal e a fibrilação atrial, são complicações comuns dos pacientes com hipertireoidismo, entretanto arritmias ventriculares são raras, acontecendo principalmente nos pacientes com hipertireoidismo descontrolado e/ou tireotoxicose.
Relato de Caso: Paciente feminina, 80 anos é admitida em sala de emergência com história de palpitações taquicárdicas intermitentes há 10 dias associados a dor torácica. Durante os períodos de palpitações apresentava náuseas e tontura com melhora após uso de medicação homeopática (Aesculus hippocastanum). Paciente hipotireoidea e portadora de osteoporose, ambos em tratamento irregular, sem outras comorbidades. No momento da admissão, apresentou taquicardia ventricular monomórfica sustentada (TVMS) com critérios de instabilidade. Após cardioversão elétrica sincronizada com 150 J em aparelho bifásico, o ritmo foi revertido para sinsusal e a paciente foi estabilizada e encaminhada a UTI para estabilização e investigação posterior em enfermaria. Na enfermaria, foi descartada coronariopatia obstrutiva como etiologia da TVMS por meio da cinecoronarioangiografia; o Ecocardiograma transtorácico descartou cardiopatia estrutural; e foi solicitada uma Ressonância Nuclear Magnética Cardíaca com ausência do realce tardio miocárdico e viabilidade cardíaca preservada. Foi posteriormente tratada com tiamazol 20 mg/dia, com melhora dos sintomas e recebendo alta hospitalar. Em consulta ambulatorial, 6 meses após, a paciente retorna com holter de 24h não evidenciando arritmias ventriculares no período estudado.
Discussão e Conclusão: O hipertireoidismo é uma causa frequente de taquicardia supraventricular, sendo a fibrilação atrial a mais comum e raramente se observa taquiarritmias com complexo QRS alargado. O diagnóstico de TV por descompensação de Hipertireoidismo foi estabelecido retrospectivamente após exclusão de causas mais comuns (coronariopatia, cardiopatia estrutural e anormalidades no sistema de condução). Nesses casos, o tratamento da causa de base cessa os períodos de taquiarritmia, sem a necessidade de medidas invasivas como: estudo eletrofisiológico ou implantação de cardiodesfibrilador implantável.