Introdução: a hipertensão pulmonar (HP) leva ao aumento do tronco da artéria pulmonar (TAP), podendo gerar contiguidade, deslocamento ou compressão extrínseca do tronco da artéria coronária esquerda (ceTCE). Ao redor de 4,5% dos pacientes com HP apresentam obstrução >50% do TCE. Em pacientes com HP e angina, a prevalência da ceTCE chega a 40%. Normalmente a compressão restringe-se ao óstio do TCE, porém a depender do local de origem, comprimento e trajeto do TCE, o segmento de obstrução pode ser mais longo, tornando seu tratamento mais desafiador.
Relato de caso
Paciente masculino de 31 anos com diagnósticos de hipertensão pulmonar secundário a cardiopatia congênita: isomerismo atrial direito, defeito do septo atrioventricular parcial, átrio único e veia cava superior esquerda (VCSE) persistente. Em pós operatório tardio de atriosseptoplastia com reposicionamento da VCSE em átrio posicionado à direita e plastia da valva atrioventricular esquerda em 1995.
Paciente assintomático foi submetido a angiotomografia para investigação etiológica da HP que evidenciou origem alta do TCE e ceTCE importante. Foi realizada cineangiocoronariografia comprovando estenose de 90% do TCE em seu terço proximal e médio. A proposta terapêutica de angioplastia do TCE com stent foi realizada seguindo as etapas: pré dilatação com balão 3x20mm a 14 atm, implante de stent Inspiron 4x23mm a 14 atm e pós dilatação com balões NC Trek 5x15mm a 22 atm e Sterling 6x20mm a 26 atm. Constatado sucesso angiográfico e ausência de complicações ao final do procedimento.
Figura 1 e 2: angiotomografia - origem alta da ACE e grave ceTCE em seu terço médio.
Figura 3: cineangiocoronariografia com estenose de 90% do terço médio do TCE.
Figura 4 e 5: resultado após angioplastia TCE.
Discussão: apesar de assintomático, a estenose crítica do TCE é fator de alto risco para morte súbita. Pode-se notar a origem alta do TCE localizada na junção sinotubular. O longo trajeto do TCE e o ângulo muito agudo em relação a parede da aorta, contribui para estenose crítica do terço médio. Esses achados não habituais dificultam a cateterização e tratamento do vaso. Apesar do trajeto estenótico longo, este preserva seu leito distal, tornando possível a angioplastia sem necessidade de abordagem da bifurcação do TCE.
Conclusão: angioplastia desafiadora da ceTCE em paciente com origem alta da artéria coronária esquerda obteve ótimo resultado angiográfico e resolução dos sintomas do paciente a curto prazo.