Introdução: A miocardiopatia não compactada (MNC) é uma doença rara, com incidência de 0,014 a 1,3% na população geral, caracterizado pela falta de compactação miocárdica com a formação de trabéculas no ventrículo esquerdo (VE). Pode ocorrer isoladamente ou associada a outras cardiopatias congênitas. Sua etiologia ainda não está bem definida, porém diferentes mutações genéticas têm sido associadas à sua ocorrência. As manifestações clínicas incluem insuficiência cardíaca, arritmias e eventos tromboembólicos, contudo, alguns pacientes podem permanecer assintomáticos. O presente estudo descreve o caso de um paciente com diagnostico de MNC em segmento com equipe da cardiologia de um hospital quaternário.
Relato do caso: Homem, 46 anos, previamente hipertenso e obeso, sem outras comorbidades relatadas, passou a apresentar dispneia rapidamente progressiva aos esforços, edema de membros inferiores (MMII) e aumento do volume abdominal, alguns dias após colecistectomia eletiva. Necessitou de internação hospitalar ao evoluir com ortopneia, dispneia paroxística noturna e ao repouso. Exame físico: turgência jugular, refluxo hepatojugular, creptações pulmonares bibasais, edema de MMII. Radiografia de tórax evidenciando cardiomegalia e aumento de câmaras direitas; eletrocardiograma com ritmo de fibrilação atrial, sobrecarga atrial esquerda e biventricular; BNP 3870. Ecocardiograma: Discreta dilatação do VE com importante disfunção contrátil (FE: 27%), hipocinesia difusa do ventrículo direito (VD) comprometida, aumento de átrio esquerdo (volume 120ml), hipertensão pulmonar (PSVD 37mmHg), insuficiência mitral e tricúspide moderadas. Durante investigação etiológica, Chagas negativo, Cateterismo cardíaco sem lesões obstrutivas e exames de função tireoideana, hepática e renal normais. Solicitada ressonância magnética para melhor elucidação do caso, que evidenciou: Aumento biatrial, disfunção biventricular (FEVD 11%, FEVE 12%) e aumento das trabeculações no VE, com relação miocárdio não compactado / compactado > 2,3 (Critérios de Petersen).
Conclusão: Frequentemente, o MNC apresenta atraso no diagnóstico, pois pode não ser visualizado pelo ecocardiograma, e nem sempre a ressonância magnética é realizada, devido a sua limitação de disponibilidade e alto custo. Cabe aos profissionais de saúde atentar aos sintomas de insuficiência cardíaca relatados pelos pacientes para realizarem o manejo mais seguro, visto que, neste caso, uma sobrecarga volêmica relacionada ao procedimento cirúrgico pode ter sido o fator deflagrador da sua descompensação.