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Papel da netose como moduladora da cardiotoxicidade aguda induzida pela doxorrubicina

Marina Gaiato, Tatiana Bachiega, Anderson S. S. Fujimori, Ana P. D. Ribeiro, Nayanne Vieira, Natalia F. Ferreira, Danilo M. B. Luciano, Ronny P. Cabral, Bertha F. Polegato, Leonardo Zornoff
FACULDADE DE MEDICINA DE BOTUCATU - - SP - BRASIL

Fundamentação: A doxorrubicina (Dox) é utilizada em diversos tipos de câncer. No entanto, a cardiotoxicidade é efeito colateral comum. A fisiopatologia da cardiotoxicidade não é completamente compreendida, mas os neutrófilos produzem substâncias atrativas como as NETs (neutrophil extracellular traps), moduladoras da inflamação, que podem mediar a remodelação da matriz extracelular cardíaco.

Objetivos: Analisar o papel das NETs na fisiopatologia da cardiotoxicidade aguda induzida por Dox.

Métodos: 60 ratos Wistar foram alocados em 3 grupos: Controle (C), Dox (D) e Dox + DNAse (DD). Os grupos D e DD receberam injeção intraperitoneal de Dox 10mg/kg, e após 2h, o grupo DD recebeu injeção subcutânea de DNAse 20mg/kg (inibidor de NETs). Após 48h da injeção com Dox, diferentes variáveis foram avaliadas. Utilizamos a ANOVA de uma via, com significância de 5%.

Resultados: O grupo D apresentou aumento de NETs quando comparado aos grupos C e DD (C=2997±810; D=5955±1906; DD=4108±1674 pg/mL; p<0,001). No ecocardiograma, o tempo de relaxamento isovolumétrico corrigido pela frequência cardíaca foi maior nos grupos D e DD (C=46±4,6; D=51±7,9; DD=51±7,7, p=0,039). Além disso, no estudo do coração isolado, a área sob a curva da relação pressão-volume diastólica foi reduzida no grupo D, indicando menor complacência ventricular, quando comparado com C e DD (C=827±74; D=670±109; DD=966±218; p=0,007). Dox induziu aumento da concentração miocárdica de malondialdeído nos grupos D e DD (C=48±28; D=73±32; DD=82±25 nmol/mg de proteína; p<0,05). Em relação à matriz extracelular, a Dox aumentou o colágeno no tecido cardíaco e a DNAse atenuou esse fenômeno (C=2,88±0,97, D=3,51±0,7, DD=2,99±0,66%; p<0,05). Adicionalmente, a Dox aumentou a atividade da metaloproteinase 2 (C=1,01±0,28, D=2,04±0,47, DD=2,36±0,6; p<0,001), mas a DNAse não interferiu neste parâmetro. A expressão protéica dos inibidores teciduais de metaloproteinase tipo 2 e 4 não foi diferente entre os grupos, bem como os valores das interleucinas-1, 6, 17, 10, fator de necrose tumoral alfa e fator de crescimento transformador beta.

Conclusões: A cardiotoxicidade induzida por Dox está associada à disfunção diastólica, fibrose cardíaca, aumento da atividade da metaloproteinase 2 e estresse oxidativo. As NETs estão envolvidos na fisiopatologia da cardiotoxicidade induzida por Dox. A inibição da netose melhorou a função diastólica, associada à diminuição do conteúdo de colágeno miocárdico. No entanto, este efeito não foi mediado por estresse oxidativo, marcadores inflamatórios e outras variáveis da matriz extracelular.

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