INTRODUÇÃO: Entre os maiores desafios no manejo de pacientes portadores da cardiopatia isquêmica, a ocorrência de arritmias ventriculares, especialmente quando incessantes, imputa significativo aumento de morbidade e risco de morte. O caso a seguir ilustra uma intervenção cirúrgica de sucesso na reversão de taquicardias ventriculares (TVs) já refratárias às terapias medicamentosa e ablativa em um paciente portador de miocardiopatia isquêmica.
RELATO DE CASO: Homem de 44 anos, ex-etilista de alta carga e ex-usuário de maconha (abstêmio de ambos há 11 anos), ex-tabagista (carga de 28 anos-maço, abstêmio há 16 anos), sem comorbidades/eventos cardiovasculares prévios e sem antecedentes familiares. Queixava-se de dispneia há 1 ano com piora nos 3 últimos meses para os médios esforços, já em uso de medicações para manejo de insuficiência cardíaca. O ecocardiograma apontou fração de ejeção (FE): 33%; um ventrículo esquerdo (VE): 71x63mm; e acinesia em todo o septo e em segmento apical da parede inferior, além de insuficiência mitral moderada. Angiotomografia de coronárias evidenciou oclusão ostial da artéria descendente anterior (ADA) de aspecto crônico, posteriormente confirmada por cineangiocoronariografia como lesão uniarterial e presença de colaterais da coronária direita para a esquerda.
Após relato de arritmias em domicílio, foi então internado para elucidação. Holter de 24h demonstrou 16% de extrassístoles ventriculares (EEVVs) polimórficas e frequentes, além de 182 TVs não-sustentadas. À ressonância magnética cardíaca, notou-se padrão compatível com infarto nos segmentos anterosseptal, anterior e anterolateral médios, apicais e ápex, além de fibrose correspondente à 33% da massa do VE.
Enquanto internado, cursou com TVs sustentadas (TVSs), sendo necessário controle com amiodarona e lidocaína endovenosas. Implantado CDI, porém seguiu com episódios seguidos de TVSs e necessidade de choque pelo aparelho. Realizado estudo eletrofisiológico e 2 tentativas de ablação. Contudo, persisitiu com TVSs e deflagração de terapias pelo CDI. Atingido controle parcial com emprego concomitante de propranolol, carvedilol, amiodarona e lidocaína.
Tendo em vista a localização da cicatriz, optou-se pela realização de em único tempo de aneurismectomia + revascularização mamária esquerda-ADA + plastia de valva mitral, atingindo-se bom resultado. Após 7 dias da cirurgia, novo Holter mostrou resolução completa das TVs, além de ausência de eventos arrítmicos em registro de CDI. Paciente recebeu alta sem novos eventos, em uso oral de carvedilol e amiodarona.