Introdução: Intervenções coronárias percutâneas (ICP) em lesões coronarianas calcificadas estão relacionadas a piores desfechos principalmente devido à expansão incompleta dos stents. A litotripsia intravascular (IVL) chegou ao Brasil em junho de 2022 e tem se difundido com rapidez em nosso país. Objetivamos aqui descrever a experiência inicial brasileira com IVL em centro único cardiovascular.
Métodos e resultados: Entre junho de 2022 e janeiro de 2023 foram incluídos 45 pacientes consecutivos com indicação clínica para ICP assistida com IVL como parte de um registro institucional. Foram avaliados desfechos adversos intra-operatório relacionados a IVL e os pacientes também foram acompanhados para a presença de eventos cardíacos adversos maiores (ECAM: morte por todas as causas, qualquer infarto e nova revascularização não programada da lesão alvo) até a alta hospitalar. Foram tratadas 55 lesões coronárias e a presença de calcificação foi avaliada por critérios na fluroscopia (definição da Society for Cardiovascular Angiography and Interventions) e/ou através de exame de imagem intravascular. A média de idade foi de 72,4 ±10,9 anos, homens foram 77,8% e diabetes esteve presente em 60%. A maioria dos indivíduos se apresentaram em síndromes coronarianas agudas (64,4%). Em relação às características angiográficas e do procedimento, o escore Syntax médio foi 21,7 ±9,5, lesões tipo C em 90,9% e comprimento médio das lesões de 31.2 ±15.5mm sendo utilizados a média de 1.8 ± 1.01 stents. Observou-se grau importante de calcificação pela fluoroscopia em 70,9% e utilizou-se imagem intravascular em 74,5% das lesões. Associação com aterectomia rotacional foi necessária em 3 lesões, foram utilizados 52 cateteres de IVL e todos os 80 pulsos foram entregues na mesma lesão em 60%. A IVL como estratégia inicial programada ocorreu em 90,9% e o restante foram procedimentos de salvamento devido à pré-dilatação incompleta. Obteve-se sucesso angiográfico (estenose residual < 30% e fluxo TIMI 3) em todas as lesões. Os resultados adversos intra-hospitalares foram baixos, com taxa livre de ECAM de 93,3% impulsionados por 3 casos de infarto do miocárdio peri-procedimento e nenhum caso de morte ou revascularizações de urgência da lesão alvo. Complicações relacionadas à IVL ocorreram em 14,5% principalmente devido à dissecção coronária após litotripsia (9,0%) antes do implante do stent.
Conclusões: A IVL mostrou ser uma modalidade segura e eficaz na modificação do cálcio coronariano para alcançar a expansão ideal do stent nesta série inicial de casos em centro único brasileiro.