Introdução: A cardiomiopatia hipertrófica (CMH) pode ter apresentação sindrômica e não sindrômica. As não-sindrômicas estão associadas aos genes que codificam proteínas do sarcômero, principalmente: MYH7, MYBC3, TNNI3, TNNT2, TPM1, MYL2, MYL3, ACT1. Os testes genéticos estão sendo incorporados às linhas de cuidado e apresentam rendimento diagnóstico em torno de 40%. Há grande interesse em seu uso na prática, pois poderão contribuir na identificação de variantes associadas a pior prognóstico e risco de morte súbita; além disto, permitirão o diagnóstico precoce em familiares por meio do rastreamento em cascata. Infelizmente, a maioria dos dados são referentes a pacientes brancos de origem europeia e pouco se sabe sobre uma população miscigenada como a brasileira.
Métodos: Estudo observacional sequencial de 123 pacientes com suspeita clínica de CMH submetidos a testagem genética e coleta de dados clínicos no Instituto do Coração. De acordo com o teste genético, após análise do exoma, os pacientes foram divididos em genótipo positivo ou negativo. As variáveis foram analisadas pelo teste exato de Fisher e Mann-Whitney.
Resultados: Identificamos variantes patogênicas ou provavelmente patogênicas associadas à CMH em 55 (44,7%) dos 123 pacientes. Os genes mais afetados foram MYH7 (29%) e MYBPC3 (29%). Identificamos também genes associados a fenocópias da CMH: TTR (2%) e GLA (2%). Em conjunto, esta série apresenta 126 variantes em 62 genes, das quais 112 são variantes únicas e 14 estão presentes em mais de um paciente. Encontramos 62 variantes em genes sarcoméricos, 5 das quais nunca descritas; 11 em genes associados às RASopatias, das quais 5 nunca foram reportadas. As 2 variantes mais recorrentes encontradas foram MYH7:p.(Ala797Thr) e TPM1:p.(Arg21Leu). Na comparação entre os grupos, encontramos que os pacientes com genótipo positivo estão associados com menor idade ao diagnóstico (44,0 ±2,5 anos x 54,6 ±1,7; p<0,001), história de cardiopatias em irmãos (49% x 22%; p=0,002), menor incidência de dispneia classe funcional III (2,9% x 27,3%; p=0,02), menor prevalência de hipertensão (14% x 53% p<0,001) e menor uso de betabloqueador (58% x 75%; p=0,048).
Conclusão: O teste genético nesta população mostrou rendimento de 44,7% e auxiliou na identicação de fenocópias que possuem tratamento específico. Houve diferenças na apresentação clínica que sugerem que a expansão da amostra e do tempo de seguimento serão importantes para seleção de variantes que sejam biomarcadores de prognóstico e do manejo dos pacientes, além de assistir ao diagnóstico.