INTRODUÇÃO: O arco aórtico à direita com artéria subclávia esquerda (ASCE) aberrante é uma anomalia congênita extremamente rara, com uma incidência de 0,05% na população geral. A degeneração aneurismática na origem da ASCE, denominada Divertículo de Kommerell, ocorre em cerca de 60% dos casos. Frequentemente é assintomática, com identificação acidental em exames de imagem realizados por outros motivos. Os sintomas ocorrem em cerca de 5% dos casos, devido à proximidade do divertículo com o trato digestivo e respiratório, sendo eles: disfagia por compressão esofágica, tosse por irritação ou compressão traqueal ou dor torácica por expansão ou ruptura do aneurisma.
MÉTODOS: Relatamos um caso de paciente do gênero feminino, branca, de 62 anos, com histórico de morte súbita abortada por Hipertrofia Septal Assimétrica Obstrutiva (HSAO), sendo necessário implante de cardiodesfibrilador implantável para prevenção secundária, em 2005. Em 2021, após infecção por SARS-CoV-2 relatou alguns episódios de tosse e engasgo, sendo solicitado Tomografia de Tórax, na qual foi observado arco aórtico localizado à direita. Em razão da suspeita de anomalia vascular associada, foram solicitados Angiotomografia (AngioTC) de aorta (Figura 1) e Raio X contrastado do trato digestivo (Figura 2). A AngioTC revelou arco aórtico à direita com ASCE aberrante originada do segmento ectásico - Divertículo de Kommerell, determinando um anel vascular com discreta impressão sobre a traqueia, bem como sobre o esôfago torácico. O Raio X contrastado revelou redução do calibre do esôfago ao nível da 3ª e 4ª vértebras torácicas, denotando-se arco aórtico à direita nestes níveis.
RESULTADO: O Divertículo de Kommerell é uma anomalia congênita rara que, em geral, é diagnosticado de maneira incidental em pacientes assintomáticos. Em alguns casos, pode gerar sintomas como disfagia, dispneia ou tosse. Diante desse diagnóstico no paciente relatado com HSAO, foi optado por tratamento clínico, visto sintomatologia discreta, alto risco cirúrgico e ausência de compressão grave de estruturas mediastinais.
CONCLUSÃO: Esse caso ilustra que nem sempre o diagnóstico é feito diante de sintomas típicos da doença. Apesar de raras, as anomalias de arco aórtico associadas a Divertículo de Kommerell podem ser diagnosticadas com segurança por exames de imagem não invasivos, os quais também serão utilizados para seguimento clínico. Um acompanhamento periódico se faz necessário, devido risco de complicações e progressão da doença.