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MINOCA e Miocárdio não compactado, uma associação rara

Pedro Benez de Morais, Guilherme Lago Miranda, Ana Manoela Cavalheiro Arruda, Kewin Tjioe Chen, Andeile de Albuquerque Galhardo, Fernando Focaccia Povoa
HOSPITAL DO SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL - São Paulo - SP - BRASIL

INTRODUÇÃO: Definida pela tríade de anatomia trabecular proeminente, fina camada compactada e recessos intratrabeculares profundos, a miocardiopatia não compactada do ventrículo esquerdo (MPNCVE) é de prevalência desconhecida. Estima-se que 20-40% dos casos têm natureza familiar, principalmente por herança autossômica dominante. A clínica é heterogênea, desde pacientes assintomáticos até morte súbita. Insuficiência cardíaca (IC), arritmias ventriculares e eventos tromboembólicos são os mais comuns.

RELATO: V.L.O., sexo feminino, 74 anos, hipertensa, diabética, hipotireoidea, portadora de IC de fração de ejeção reduzida (ICFEr) sem etiologia definida e antecedente de acidente vascular encefálico isquêmico há 9 meses da internação. Histórico familiar de morte súbita em parentes jovens de 1º grau. Apresentou quadro súbito de dor torácica típica de síndrome coronariana no dia 23/11/22, buscando atendimento médico. Na admissão, eletrocardiograma sinusal evidenciou bloqueio de ramo esquerdo, e positividade dos marcadores de necrose miocárdica. Realizou cineangiocoronariografia, sem lesões obstrutivas. Diagnosticada como MINOCA (Myocardial Infarction and Nonobstrutive Coronary Arteries), foi solicitada ressonância cardíaca, que mostrou aumento do trabeculado médio-apical do ventrículo esquerdo, preenchendo critérios para MPNCVE, bem como achados compatíveis com cardiomiopatia isquêmica. Iniciado anticoagulação plena, tratamento clínico otimizado e rastreio familiar nos parentes de 1º grau. 

DISCUSSÃO: O diagnóstico de MPNCVE pode ser por meio do ecocardiograma, porém o método padrão ouro é a ressonância cardíaca, sendo estabelecido que a razão miocárdio não compactado/compactado na diástole nas paredes lateral e apical > 2,3 possui sensibilidade de 86% e especificidade de 99% para trabeculações patológicas e diagnóstico de MPNCVE. A paciente do caso apresentava IC e cardiopatia isquêmica não coronariana sem investigação prévia, com uma relação miocárdio não compactado/compactado de 3,8, altamente sugestivo de MPNCVE. Tal fato justifica a IC, porém com quadro isquêmico não coronariano pouco comumente descrito.

CONCLUSÃO: O caso em questão é condizente com MPNCVE, patologia de baixa prevalência e difícil diagnóstico. Não existe terapia específica, sendo as principais medidas as de prevenção de arritmias, tratamento da IC, prevenção de morte súbita e de tromboembolismo. O rastreio precoce se torna primordial para prevenção de desfechos cardiovasculares adversos.

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