Introdução:
Febre reumática é uma possível complicação tardia secundária à infecção pelo estreptococo do grupo A. Episódios repetidos de surtos agudos podem evoluir para doença cardíaca reumática, que se associa à importante morbimortalidade em crianças e adultos jovens.
Relato do Caso:
Paciente masculino, 46 anos, antecedente de febre reumática, submetido a troca valvar por prótese metálica tipo bola-gaiola em 1992, devido a dupla disfunção valvar aórtica. Permaneceu assintomático até 2020, evoluindo após esse período com sintomas de insuficiência cardíaca (IC).
A hipótese inicial foi disfunção da prótese metálica. Ecocardiograma transesofágico não revelou alterações protéticas, evidenciando presença de disfunção ventricular, redução de fração de ejeção para 25% (previamente normal), dilatação de cavidades esquerdas e áreas de alteração segmentar.
Cineangiocoronariografia mostrou-se sem lesões obstrutivas e sorologia para doença de Chagas negativa. Ressonância magnética (RNM) do coração apresentou áreas de realce tardio transmural no segmento apical e subendocárdico em segmentos da parede lateral, anterior e média. Diante dos achados da RNM e do diagnóstico prévio de febre reumática a principal hipótese foi a de miocardite reumática em atividade.
Cintilografia com gálio identificou presença de hipercaptação do radiofármaco em projeção de área cardíaca de padrão difusa e grau discreto. Resultado que corroborou com a existência de processo inflamatório cardíaco em atividade. Paciente atualmente em acompanhamento ambulatorial, em avaliação clínica para a realização de corticoterapia ou inclusão em fila de transplante cardíaco.
Discussão:
O tratamento da cardite reumática carece de consenso, possuindo escassez de evidência. No que tange o diagnóstico e tratamento da miocardite reumática, o cenário é ainda mais preocupante, com apenas poucos estudos observacionais.
A terapia atualmente proposta para os casos graves e refratários, como o descrito, baseia-se no uso de corticosteroides. Há grande variação entre os dados da literatura, relacionados com dosagem do fármaco a ser utilizada, tempo de tratamento e realização de pulsoterapia associada. O transplante cardíaco também se apresenta como possibilidade para os casos de IC terminal e refratária.
Devido a grande prevalência em nosso meio de febre reumática e gravidade clínica associada à miocardite reumática, há a necessidade de realização de maiores estudos para adequado manejo terapêutico e redução de morbimortalidade secundária à essa entidade clínica.