Introdução: A dissecção aórtica Stanford A é uma doença com alta mortalidade chegando a 48% nas primeiras 48h. O tratamento cirúrgico é um desafio para o cirurgião, sendo de alto risco e agressivo, que envolve canulação venosa e arterial, circulação extracorpórea, hipotermia profunda e parada circulatória total em algumas circunstâncias. No caso relatado, a canulação teve de ser feita de maneira atípica, para o êxito do procedimento, conferindo maior risco e necessidade de alta habilidade e experiência técnica na cirurgia.
Relato de caso: Homem de 67 anos, com quadro de dor precordial irradiada para ombro esquerdo com assimetria da pressão arterial em membros superiores. A angiotomografia evidenciou dissecção de aorta torácica com extensão superior para os ramos do tronco braquiocefálico, artéria carótida comum esquerda e artéria subclávia esquerda, inferiormente estendendo-se para aorta abdominal. Ao ecocardiograma transtorácico (ETT) plano valvar preservado com insuficiência aórtica leve. Na abordagem cirúrgica de urgência, foi tentado a canulação da artéria carótida comum direita, porém a mesma encontrava-se dissecada, foi necessária troca rápida do sítio, com canulação da ponta de ventrículo esquerdo (VE), para posteriormente dar entrada em circulação extracorpórea (CEC). Após reparo do arco aórtico e aorta ascendente, novamente trocada a canulação do ventrículo esquerdo para neoaorta. O restante do procedimento aconteceu sem intercorrências, realizada troca da aorta ascendente com ressuspensão da valva aórtica com técnica Florida Sleeve. No pós-operatório o paciente teve evolução satisfatória e ETT demonstrou função sistólica do VE sem alterações e fração de ejeção 64%.
Discussão: A mortalidade da dissecção de aorta durante a cirurgia cardíaca é alta, variando entre 20% e 50%. No caso relatado o comprometimento que o paciente apresentava, impediu as vias de acesso mais comuns, por isso a via de escolha foi a transventricular. Constatando que a canulação ventricular, mesmo que pouco abordada na literatura e na prática, constitui uma opção para correção de dissecção de aorta ascendente, com resultado satisfatório e boa evolução clínica como neste caso, demonstrando a alta habilidade e expertise da equipe cirúrgica envolvida.