Introdução
Infarto agudo do miocárdio com supra desnivelamento do segmento ST (IAMCSST) é uma das principais causas de óbito cardiovascular. Apesar de ser uma manifestação mais comum em homens, as mulheres também podem ser acometidas nas suas variadas formas, principalmente após as alterações hormonais da menopausa. Esse estudo tem como objetivo comparar as características entre os sexos e avaliar seus desfechos intra-hospitalares e de muito longo prazo comparando os sexos.
Métodos
Estudo de coorte retrospectiva, de pacientes consecutivos admitido espontaneamente ou transferidos para Hospital terciário de referência com IAMCSST entre 2004-2017. Os pacientes foram divididos entre os sexos para análise das características basais e preditores independentes de morte por análise multivariada ajustada. A sobrevida de longo prazo foi realizada através das curvas de Kaplan-meier.
Resultados
Total de 1.603 pacientes com IAMCSST foram incluídos, sendo 449(28%) do sexo feminino. As mulheres apresentavam idade mais avançada em relação aos homens (69.7±12.0 anos vs. 63.8±13.8; p<0.001), maior prevalência de diabetes (33.4% vs 26.8%; p=0.01) e hipertensão (75.3% vs 64.5%; p<0.001). Além disso, procuraram primeiro atendimento mais tardiamente (180[90;481] vs 140[60;411]min.; p=0.002) e com maior tempo entre a dor e angioplastia (450[260;960] vs 360 [199;660]min.; p=0.004). Na análise multivariada, pacientes do sexo masculino(HR:0.75[0.57-0.97]; p=0.028), uso prévio de estatina (HR:0.54[0.40-0.73];p<0.001), pré-tratamento com clopidogrel (HR:0.51[0.38-0.68];p<0.001) e uso de betabloqueador após o infarto (HR:0.35[0.26-0.47];p<0.001) mostraram-se como fatores independentes para melhores desfechos no seguimento. Em contrapartida, pacientes com histórico de angioplastia prévia ao infarto (HR:1.58[1.11-2.25];p=0.011), acidente vascular cerebral (HR:1.82[1.21-2.75];p=0.004), doença renal crônica (HR:1.27[1.20-1.34];p<0.001) e uso de betabloqueador antes do infarto (HR:1.95[1.45-2.62];p<0.001) foram fatores relacionados a maior mortalidade. No seguimento de muito longo prazo (mediana de 4 anos) o sexo feminino associou-se a ~2vezes maior mortalidade, contudo a diferença de mortalidade foi notada principalmente na fase intra-hospitalar (20.5% vs 14.1%; p=0.002).
Conclusão
Em pacientes com IAMCSST e seguimento de muito longo prazo o sexo feminino associou-se a aumento de mortalidade. Essa diferença pode estar associada a fatores clínicos de maior gravidade dessa população e maior tempo entre início de sintomas e o atendimento.