Introdução
Apesar de diversos estudos mostrarem ausência de benefício do uso sistemático de balão intra-aórtico (BIA) na melhora de sobrevida em curto prazo de pacientes com infarto agudo do miocárdio com supra do segmento ST (IAMCSST) e choque cardiogênico, seu uso permanece alto nesse contexto com o intuito de melhorar a hemodinâmica. Porém, faltam estudos de muito longo prazo. Nosso objetivo foi avaliar as características e mortalidade de muito longo prazo em IAMCSST, com e sem choque cardiogênico que usaram BIA.
Métodos
Coorte retrospectiva de pacientes admitido espontaneamente ou transferidos para Hospital terciário de referência com IAMCSST entre 2004-2017. Os pacientes foram divididos em 3 grupos: sem choque cardiogênico (CC), com CC e sem BIA; com CC e com BIA, para análise das características basais e preditores independentes de morte por análise multivariada ajustada. A sobrevida de longo prazo foi realizada através das curvas de Kaplan-Meier.
Resultados
1.497 pacientes com IAMCSST incluídos no período, sendo que 1.274 (85,2%) não tiveram CC, 101 (6,7%) com CC e sem BIA e 122 (8,1%) com CC e com BIA. Em relação ao grupo sem CC, os dois grupos com CC (com e sem BIA) eram mais velhos, com maior prevalência de diabetes, insuficiência cardíaca e DPOC (P<0,05). A maioria desses pacientes se apresentavam na admissão com supra em parede anterior, com médias de pressão arterial menores e frequência cardíaca mais elevadas que o grupo sem choque. Na fase intra-hospitalar (IH), nota-se tempo de permanência de internação muito superior no grupo com CC, principalmente aqueles que necessitaram BIA (p<0,001). Esses pacientes que usaram BIA apresentaram mais anemia e insuficiência renal aguda, com mortalidade IH de 48%, já os pacientes com CC e sem BIA 39% e os pacientes sem CC 10%.
Na curva de sobrevida de Kaplan-Meier é possível observar que independente do uso de BIA os dois grupos com CC tiveram expressiva mortalidade intra-hospitalar, que se manteve estável e similar em seguimento mediano de 4 anos (log-rank< 0.001). Na análise multivariada, a presença de CC, tanto em pacientes sem BIA (HR: 3.9[2.7-5.7];p<0.001), quanto naqueles com BIA (HR:3.4[2.5-4.7];p<0.001) se mostrou fator independente de mortalidade, sendo que o uso de BIA não foi fator protetor (p=0.57 interação).
Conclusão
Pacientes com IAMCSST e CC têm um perfil clínico mais grave, sendo sua mortalidade 3,5 vezes maior. O uso de BIA nesse contexto aumentou as taxas de complicações intra-hospitalares, sem benefício de redução de mortalidade intra-hospitalar ou no seguimento de muito longo prazo.