Introdução: A densidade de cálcio valvar (DCV) é a relação entre o escore de cálcio valvar (ECV) e o anel aórtico. Ela possui maior correlação com a gravidade anatômica e prognóstico da estenose aórtica (EAo) do que o ECV isoladamente. Seu valor de referência foi estabelecido em populações europeias, e há evidência de variação em relação a outras populações. O objetivo é avaliar o ECV e DCV em uma coorte de pacientes brasileiros. Métodos: Estudo unicêntrico, retrospectivo, avaliou 223 pacientes consecutivos com EAo importante (142) moderada (39) e baixo-fluxo, baixo gradiente (42). Todos os pacientes foram submetidos a ecocardiograma e angiotomografia de aorta com diferença de até 12 meses. A DCV foi calculada através da fórmula: ECV (UA) / área anel aórtico (cm²). Resultados: A mediana de idade foi de 80 (75-85) anos para os homens e 78 (72-85) anos para as mulheres (p=0,378), sendo a maioria do sexo feminino (68%). Homens possuíam maior superfície corpórea e doença arterial coronária comparados às mulheres. Quando avaliada toda a coorte, o ECV foi semelhante entre os sexos (mulheres: 1881 [1371-2299] vs homens 1925 [1540-2393] UA, p=0,268), mas houve uma diferença em relação à DCV, sendo maior nas mulheres (470 [356-597] vs 410 [354-513] UA/cm², p=0,016). Quando avaliamos somente os pacientes com EAo importante, tanto ECV (mulheres: 2011 [1571-2357] vs homens: 2213 [1617-2579] UA, p=0,136) e DCV (mulheres: 506 [386-618] vs homens: 485 [355-534] UA/cm², p=0,124) tiveram valores semelhantes. As áreas sob a curva ROC estão representadas nas figuras 1A e 1B. Nessa coorte, o valor de ECV de 2051UA mostrou sensibilidade (S) de 49% e especificidade (E) de 90% nas mulheres; nos homens, 2300UA mostrou S e E de 48 e 88% respectivamente. Já na DCV, um valor de 501UA/cm² apresentou S de 53% e E 81% nas mulheres, enquanto um valor de 446UA/cm² evidenciou S de 57% e 83% de E. Conclusão: Em uma coorte de população brasileira, encontramos uma população do sexo feminino com ECV e DCV semelhantes ao sexo masculino e maior do que o evidenciado na literatura. Tal achado reafirma a necessidade de maior estudo desses métodos na nossa população.
Figura 1: Área sob a curva de ECV e DCV nos sexos feminino (1A) e masculino (1B).