Introdução:
Hipertensão arterial (HA) e diabetes mellitus (DM) são fatores de risco conhecidos para o desenvolvimento de lesão renal aguda (LRA) após cirurgia cardíaca. A HA pode prejudicar a função renal e aumentar o risco de LRA, enquanto o DM não controlado pode levar a danos microvasculares e aumento do estresse oxidativo, exacerbando o risco de LRA. A combinação dos dois fatores pode ter um efeito sinérgico, aumentando ainda mais o risco de LRA após cirurgia cardíaca.
Objetivo:
O objetivo desse estudo foi avaliar a HA e/ou DM como preditores de risco para o desenvolvimento de LRA [baseado na classificação Kidney Disease: Improving Global Outcomes (KDIGO)] após cirurgia cardíaca.
Métodos:
Após exclusões (22 pacientes com idade <18 anos e 51 pacientes em tratamento dialítico), 4549 pacientes adultos submetidos a cirurgia cardíaca foram avaliados. Regressão logística uni e multivariada foram utilizadas para avaliar a associação entre HA e/ou DM como preditores de risco para o desenvolvimento de LRA após cirurgia cardíaca.
Resultados:
Dos pacientes incluídos, 49,9% foram submetidos a revascularização do miocárdio (RM) e 32,2% a cirurgia valvar (CV). Dos 17,9% restantes, 3,0% foram submetidos a cirurgias de aorta, 3,8% a correção de cardiopatias congênitas, 1,4% a transplante cardíaco, 0,8% a outros procedimentos e 8,9% a cirurgias combinadas. 30,1% dos pacientes não tinham hipertensão ou diabetes, 45,7% eram apenas hipertensos, 2,1% apenas diabéticos e 22,2% hipertensos e diabéticos. Após ajuste do modelo de regressão para idade (anos), sexo (referência: masculino), função renal pré-operatória [taxa de filtração glomerular estimada pela fórmula Chronic Kidney Disease Epidemiology Collaboration - CKD-EPI 2021 (em mL/min/1,73 m²)] e tipo de cirurgia (referência: RM), apenas a presença conjunta de HA e DM foi preditor independente para o desenvolvimento de LRA após cirurgia cardíaca (Odds Ratio – 1,53; intervalo de confiança 95% - 1,25 a 1,86; valor P<0,001).
Conclusão:
Na população estudada, pacientes portadores de HA e DM tiveram 53% maior risco de desenvolvimento de LRA após cirurgia cardíaca quando comparados aos pacientes que não eram nem hipertensos ou diabéticos.