Introdução: A Agenesia da Veia Cava Inferior (AgVCI) é uma malformação congênita com prevalência de até 0,5%. A gênese da veia cava (VC) tem como origem 3 pares de veias: cardinais posteriores, subcardinais e supracardinais. Esses pares regridem e fazem anastomoses, formando a VC. Nesse período, segmentos da veia cava inferior (VCI) podem não se formar ou não realizar anastomose. Em tais circunstâncias, o sangue dos membros inferiores e pelve retornam ao átrio direito através de veias uterinas, veia gonadal e, principalmente, através do sistema ázigos e hemiázigos. A alteração na drenagem venosa do segmento caudal do corpo, em pacientes com a AgVCI, pode proporcionar maior tempo de estase sanguínea devido aos diversos caminhos alternativos que o sangue deve percorrer para que retorne ao átrio.
Relato de caso: Paciente feminina, 35 anos, procurou atendimento devido a dor de forte intensidade em região lombar, coxa, perna e pé. Foi avaliada inicialmente em serviço secundário, sendo aventada a hipótese de oclusão arterial aguda. Foi medicada com heparina de baixo peso molecular e encaminhada em caráter de emergência ao serviço terciário. Na chegada ao hospital, paciente apresentava dor em membro inferior direito, edema e empastamento de musculatura da coxa, diminuição de temperatura distal, e dificuldade de palpação dos pulsos distais devido a intensidade do edema. Foi realizada ultrassonografia com laudo de extensa trombose venosa profunda (TVP) com início em veia poplítea até veia ilíaca comum, sem visibilização da calda do trombo. À TC, foi possível identificar ausência do segmento infrarenal da VCI, intensa circulação venosa e anastomoses pélvicas, calibre aumentado de veia gonadal, ázigos e hemiázigos. Foi então submetida a tratamento clínico com heparina e repouso apresentando melhora significativa da dor e edemal. Retornou ao nosso serviço após seis anos do 1° episódio com novo quadro de TVPaguda, agora em membro contralateral. Foi feito diagnóstico por ultrassonografia Doppler, evidenciando trombo de aspecto recente que se estendia de veia poplítea até veia ilíaca externa. Paciente foi internada devido a sintomatologia importante de dor e edema. Três meses após o 2° quadro, segue em uso de rivaroxabana, e encontra-se em acompanhamento ambulatorial, sem complicações.
Conclusão: Apesar da incidência de AgVCI ser baixa, em pacientes jovens que desenvolvem trombose venosa profunda extensa, sem fator de risco aparente, pode ser útil a realização de exame tomográfico para avaliação da drenagem venosa e diagnóstico de AgVCI, dado risco de nova TVP.