Introdução: Pacientes com valvopatia reumática que desenvolvem disfunção ventricular sem uma causa evidente, devem ser investigados quanto a cardite reumática (CR), entre seus diagnósticos diferenciais. Relato de caso: Paciente do sexo feminino de 42 anos, já submetida a troca valvar por estenose mitral reumática e em uso de profilaxia para CR com penicilina de forma rotireia por sua ocupação profissional, iniciou com uma queixa nova de dispneia aos esforços e palpitação. Foi solicitado ecocardiograma transtorácico (ECOTT) como investigação inicial, que mostrou a prótese normofuncionante, mas evidenciou queda da fração de ejeção (FE) nova e inexplicada, de 64% para 36% com nova insuficiência moderada de valva aórtica e hipocinesia difusa. Realizada a hipótese de CR dentre os diagnósticos diferenciais para justificar as alterações encontradas. A paciente realizou então um PET (Tomografia de emissão de prótons) cardíaco, que mostrou captação anômala nas paredes do ventrículo esquerdo, reforçando a suspeita de um processo inflamatório, tal como a CR ativa. Iniciou o tratamento com corticoide (prednisona via oral) 1 mg/kg por 4 semanas e posterior desmame. Em novo ECOTT, realizado após 4 semanas de tratamento, houve recuperação da FE para 48% e a insuficiência aórtica que antes era moderada passou para discreta. Paciente evoluiu com melhora dos sintomas. Discussão: A reativação CR é de difícil diagnóstico. Sua suspeita pode surgir de sinais como a ausculta de novo sopro ou mudança de sopros já existentes, possivelmente secundária a uma valvulite, sendo essa a manifestação mais frequente. A CR também pode se apresentar com sinais e sintomas de insuficiência cardíaca nova, como ocorre em cerca de 10% dos casos. Por ser um diagnóstico desafiador, exames de imagem estão evoluindo para ajudar a confirmar o diagnóstico. Entre esses exames, além do ecocardiograma, estão a cintilografia com Galio-67 e o PET 18F-FDG que mostram a captação anormal na parede miocárdica quando há infecção ou inflamação, podendo sugerir o diagnóstico de CR. Embora ainda existam dúvidas em relação a fisiopatologia desta doença, a CR responde bem ao tratamento com corticosteróides. Na maioria dos casos é prescrito prednisona 1-2 mg/Kg/dia, via oral, e é possível acompanhar a resposta do tratamento após algumas semanas com novo ECOTT. Conclusão: CR é um diagnóstico pouco lembrado na prática clínica. Pacientes com antecedente de valvopatia reumática, ainda que usem profilaxia para febre reumática, devem ser investigados quando apresentarem um quadro clínico compatível.