Introdução:
Nas últimas décadas o implante valvar aórtico transcatéter tem se consolidado como um tratamento viável, principalmente nos pacientes de risco cirúrgico proibitivo e com estenose aórtica. Porém, ainda é escassa a literatura acerca deste tratamento na insuficiência aórtica pura, seja em valva nativa ou bioprótese degenerada, e ainda mais raros naqueles com presença de tubos valvados (cirurgia de Bentall). O principal desafio neste cenário é a ausência de calcificação o que dificulta a visualização e ancoragem adequada da prótese.
Caso clínico:
Masculino, 83 anos, portador de doença renal crônica não dialítica, doença coronariana, flutter atrial paroxístico, hipertensão pulmonar e marca-passo por bloqueio atriventricular total. Realizou a cirurgia de Bentall em 2010 por insuficiência aórtica importante e dilatação aneurismática da aorta ascendente. Evoluiu com sinais de insuficiência cardíaca 12 anos após o procedimento cirúrgico, classe funcional III da classificação da New York Heart Association (NYHA).
O ecocardiograma transesofágico demonstrou abertura adequeada dos folhetos da valva aórtica (gradientes máximo e médio de 24 mmHg e 12 mmHg) com regurgitação importante, ventrículo esquerdo com hipertrofia excêntrica e função sistólica global preservada. O cateterismo cardíaco não demonstrou novas lesões coronarianas severas.
Paciente não elegível para nova cirurgica considerando o alto risco de mortalidade, conforme o Euroscore II (8,63%) e o Society of Thoracic Surgeons (STS) de 12,18%. Definido pelo Heart Team por troca valvar aórtica via transcatéter.
O procedimento ocorreu sob anestesia geral, utilizando a via transfemoral guiada por fluoroscopia. Implantada uma prótese balão expansível Myval 24,5, sob rápida frequência ventricular, mantendo os óstios coronários protegidos, sem complicações vasculares e sem sinais de regurgitação ao ecocardiograma transesófagico com gradiente transvalvar máximo e médio de 17 mmHg e 8 mmHg, respectivamente. No dia seguinte, o ecocardiograma de controle não demonstrou regurgitação ou leak paravalvar. Houve alta hospitalar 5 dias após o procedimento, sem intercorrências.
Conclusão
Concluímos que apesar da etiologia puramente regurgitativa da disfunção protética, a realização do implante de nova prótese aórtica transcatéter (valve-in-valve) é viável nestas condições, desde que executada em centros de alta expertise após refinado planejamento.