Introdução: Diversos estudos demonstram piores desfechos em mulheres após infarto agudo do miocárdio (IAM) quando comparados ao sexo masculino, mesmo após ajuste para covariáveis. As justificativas para essa desigualdade não são bem esclarecidas. Um fator inegável é a baixa representatividade feminina nos estudos clínicos randomizados e observacionais, e a consequente lacuna no conhecimento sobre as particularidades nessa população. No Brasil, apenas um registro comparou coortes de homens e mulheres após internação por síndrome coronariana aguda, com resultados conflitantes em relação à literatura global, mais extensa e robusta.
Objetivo: Comparar, com base em dados de mundo real, a ocorrência de eventos cardiovasculares (ECV) entre mulheres e homens internados por primeiro IAM em hospitais brasileiros.
Métodos: Estudo de coorte retrospectivo, com dados extraídos da plataforma global TriNetX, alimentada por prontuários eletrônicos de 13 instituições brasileiras, incluindo pacientes de ambos os sexos com diagnóstico confirmado de IAM pela classificação internacional de doenças (CID) versão 11, código I21. O desfecho primário avaliado foi o composto de óbito, choque cardiogênico (CC), edema agudo pulmonar, e parada cardiorrespiratória (PCR) ressuscitada durante internação hospitalar. Os desfechos secundários avaliados foram óbito, insuficiência cardíaca (ICC), ou hospitalização por novo IAM após 5 anos da alta hospitalar. Resultados plotados em Odds Ratio (OR) com intervalo de confiança (IC) de 95%, e teste de significância em 5%, e curvas de Kaplan-Meier com teste de log-rank para significância (Figura). Análise sobre procedimentos de revascularização miocárdica e ajuste após pareamento por escore de propensão serão apresentados a posteriori.
Resultados: O estudo incluiu 11.605 pacientes, com 7.442 homens (64,1%) e 4.163 (35,9%) mulheres. O desfecho primário ocorreu em 439 homens (5,9%) e 307 mulheres (7,4%). O sexo masculino foi associado à menor ocorrência do desfecho primário em relação ao feminino [OR 0,8 (0,68-0,92), p=0.02]. Após 5 anos, 435 homens (5,8%) e 309 mulheres (7,4%) apresentaram ICC [OR 0,77 (0,66-0,90), p=0.001], e 1.007 homens (13,5%) e 520 mulheres (12,5%) apresentaram novo IAM [OR 1,096 (0,98-1,23), p=0.112].
Conclusões: Nesta coorte brasileira de IAM, o sexo feminino foi associado à maior ocorrência de ECV (óbito, CC, edema agudo pulmonar e PCR ressuscitada) durante internação hospitalar e menor sobrevida livre de ECV após 5 anos do primeiro evento.