INTRODUÇÃO: A pandemia por covid-19 impôs aos sistemas de saúde de todo mundo um duplo enfrentamento. Além de atender à enorme demanda de pacientes gerados por uma doença emergente, houve a necessidade de se manter o atendimento às outras doenças agudas endêmicas, como o infarto agudo do miocárdio (IAM). Alguns estudos publicados demonstraram um aumento da mortalidade por IAM, comparando-se a pandemia com um período anterior, enquanto outros não identificaram tal diferença. Não encontramos publicações nacionais sobre o tema.
MÉTODOS: Estudo unicêntrico, retrospectivo, observacional, realizado através de dados do sistema de prontuário eletrônico utilizado em um hospital referência em cardiologia de alta complexidade para uma população de 800 mil pessoas no interior do Brasil. Foram avaliados o número de atendimentos, o perfil clínico e os desfechos dos pacientes admitidos por IAM em dois períodos: 15 meses antes (janeiro de 2019 à março de 2020) e 15 meses após (abril de 2020 à junho de 2021) o registro do primeiro caso de infecção pelo SARS-COV2 no serviço - em abril de 2021.
RESULTADOS: Foram avaliados 919 pacientes internados por IAM, sendo 351 (38%) classificados como IAM com supradesnivelamento do segmento ST e 567 (62%) como IAM sem supradesnivalmento do segmento ST. Desse total, 475 pacientes foram atendidos no período pré-pandemia e 444 no período pós pandemia. Não houve diferença, comparando-se os grupos em relação à idade (68 x 68 anos, p 0.24), sexo (masculino em 63% x 62%, p 0.91), presença de hipertensão (79% x 79%, p 0.94), diabetes (34% x 38%, p 0.23) e histórico de IAM ou revascularização prévia (23% x 27%, p 0.13). Quanto aos desfechos, não houve diferença estatística, comparando-se os dois grupos, em relação ao tempo até procura por atendimento em pronto socorro (≤ 12horas 79% x 75%, p 0.073), tempo porta-balão na angioplastia primária (mediana 46 x 43 minutos, p 0.23), níveis máximos de troponina de alta sensibilidade (classificados em diferentes extratos de elevação em relação ao limite superior da normalidade), necessidade de uso de vasopressores (17% x 19%, p 0.68) ou inotrópicos (16% x 15%, p 0.86) e óbito na internação (8.4% x 9.9%, p 0.43).
CONCLUSÃO: O presente estudo não mostrou diferença estatisticamente significativa entre o perfil clínico e os desfechos de pacientes internados por IAM em um serviço de referência do interior do Brasil, comparando-se um período pré e pós pandemia. Os resultados demonstram que, para o paciente que interna por IAM, bons desfechos clínicos podem ser mantidos mesmo em uma situação de pandemia.