Introdução: A inflamação que ocorre na doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) não se restringe aos pulmões. Há também a inflamação sistêmica, que se caracteriza pelo aumento plasmático de vários mediadores pró-inflamatórios. Nesse sentido, estudos epidemiológicos demonstraram risco aumentado de doenças cardiovasculares em pacientes com DPOC. O tratamento da DPOC é apenas sintomático, portanto, entender os mecanismos de ação e o papel de possíveis mediadores endógenos, como Angiotensina-(1-7) [Ang-(1-7)], pode fornecer ferramentas adicionais para melhorar o controle e o tratamento, especialmente para aqueles que não respondem bem aos tratamentos convencionais. Métodos: Vinte e um camundongos C57BL/6 foram distribuídos aleatoriamente em dois grupos principais: controle (CTRL=7) e enfisema pulmonar (EP=14). No grupo EP, os animais receberam três instilações intratraqueais de elastase porcina pancreática (EPP) em intervalos de 1 semana (0,2 UI em 50 μL de solução salina). Uma semana após a última instilação os animais do grupo EP foram separados aleatoriamente em dois grupos: EP e EP+Ang-(1-7). O grupo EP+Ang-(1-7) foi tratado diariamente, durante 4 semanas, por via oral como o composto de inclusão da Ang-(1-7) em β-hidroxipropil-ciclodextrina [HPβCD (60 μg/kg de Ang-(1-7) e 92 μg/kg de HPβCD)]. Na quarta semana de tratamento com Ang-(1-7), todos os grupos foram submetidos a avaliação do esforço máximo aeróbico na esteira. Os camundongos foram eutanasiados e os tecidos coletados setenta e duas horas após a análise da capacidade física aeróbica. Resultados: O tempo do teste de esforço físico aeróbico máximo no grupo EP foi significativamente menor em relação aos grupos CTRL e EP+Ang-(1-7). O grupo EP apresentou hiperdistensão dos espaços alveolares, aumento da densidade do espaço aéreo alveolar e redução da densidade do septo alveolar. Além disso, no grupo EP, foi observado aumento do diâmetro dos cardiomiócitos e do infiltrado inflamatório no coração quando comparados com os grupos CTRL e EP+Ang-(1-7). Camundongos com EP e tratados com Ang-(1-7) não apresentaram diferenças em nenhum dos parâmetros analisados em relação ao grupo CTRL. Conclusão: Os resultados mostram que o modelo experimental de EP promove redução desempenho físico, dano pulmonar e cardíaco. Por outro lado, o tratamento com Ang-(1-7) restaura as alterações funcional, pulmonar e cardíaca. Assim, os resultados fortalecem a hipótese de que a via Ang-(1-7)/Mas pode ser um opção para o tratamento de doenças pulmonares e suas repercussões extrapulmonares.