Introdução: Fístulas arteriais coronarianas são entidades raras e de difícil identificação, uma vez que grande parte dos pacientes apresentam-se assintomáticos ao diagnóstico. São comumente originadas da Artéria Coronária Direita e comunicam-se mais frequentemente com câmaras direitas. Abaixo, descrevemos o caso de um paciente com MINOCA apresentando-se com fístula coronariana de origem em artéria descendente anterior (ADA) com comunicação para Tronco de Artéria Pulmonar (TAP).
Relato do Caso: Homem de 33 anos portador de obesidade grau II, sem demais comorbidades prévias, etilismo social e tabagismo de baixa carga, sem antecedentes familiares relevantes. Apresentou-se em consulta ambulatorial referindo episódio há 5 meses de mal estar súbito e palpitações, iniciado durante a madrugada, que precedeu dor precordial em aperto, com intensidade 10/10, irradiação para dorso e mandíbula à esquerda, associada à sudorese e parestesia em membro superior esquerdo, que o motivou a procurar uma unidade de pronto atendimento.
Exames admissionais evidenciaram taquicardia supraventricular com frequência cardíaca de 195 bpm, sem critérios de instabilidade. Houve falha de reversão com manobra vagal, sendo efetivamente revertida com Adenosina. Realizou eletrocardiograma após, que identificou infradesnivelamento de segmento ST em derivações DII, DIII, aVF, além de V2 a V6. Dosagem de Troponina-I demonstrou curva positiva de marcadores (de 182 para 3223 mg/dL). Paciente foi internado, recebendo medidas farmacológicas para síndrome coronariana aguda, e encaminhado para estratificação invasiva.
Cineangiocoronariografia não apresentou quaisquer lesões ateromatosas, porém flagrou fístula com origem em terço proximal de ADA comunicando-se com o TAP. Realizou também à época ecocardiograma transtorácico o qual não identificou alterações segmentares do ventrículo esquerdo, alterações valvares ou redução de fração de ejeção. Após estabilização, foi então encaminhado para seguimento ambulatorial até definição de terapêutica por equipe assistente.
Após discussão do caso em reunião clínico-cirúrgica, definiu-se a realização de embolização por via percutânea da referida fístula. Realizado então procedimento em sala de hemodinâmica com liberação de dois coils intraluminais, atingindo-se sucesso clínico sem intercorrências. Paciente evoluiu então de forma assintomática, sem novas queixas ou episódios de angina, recebendo alta acompanhamento em atenção primária.