INTRODUÇÃO: O uso de substâncias anabolizantes parece ser um fator de risco para Síndrome Coronariana Aguda (SCA). Hipercoagulabilidade, hipertensão arterial e aterosclerose acelerada são descritos no uso crônico de derivados sintéticos da testosterona.
Infarto agudo do miocárdio relacionado à alta carga trombótica, em pacientes jovens ou com poucos fatores de risco para a doença aterosclerótica, deve levantar a suspeita de uso de hormônios anabolizantes.
RELATO DE CASO: Masculino, 44 anos, usuário de decanoato de testosterona e metandrostenolona há 06 meses para fins estéticos, foi encaminhado ao setor de emergência devido a infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST em parede anterior, sem critérios clínicos e eletrocardiográficos de reperfusão à fibrinolise.
Foi submetido à intervenção coronariana percutânea de resgate, no qual o cateterismo cardíaco evidenciou alta carga trombótica em terço proximal de artéria descendente anterior (ADA), com presença de embolização para ramo de segunda artéria diagonal (ADg2). Tromboaspiração intracoronariana, angioplastia e uso de inibidor da glicoproteína IIb/IIIA não resultaram em restauração de fluxo coronariano adequado em ADg2.
O paciente foi mantido em uso de acido acetilsalicílico, clopidogrel, enoxaparina e inibidor da glicoproteína IIb/IIIa por 48 horas. A angiotomografia de artérias coronarianas realizada após este período demonstrou escore de cálcio de 0 em território de ADA, com discreta redução luminal às custas de espessamento parietal. ADg2 não demonstrou redução luminal. A investigação para trombofilias resultou negativa.
DISCUSSÃO: A interação entre substâncias anabolizantes e o risco de eventos coronarianos ainda é alvo de discussão quanto à causalidade. Diversos relatos e séries de casos sobre o tema vêm surgindo nos últimos anos, assim como o uso indiscriminado de tais substâncias. O manejo clínico de obstruções coronarianas agudas com alta carga trombótica, que está frequentemente associado a estes quadros, constitui alvo de debate terapêutico.