Introdução
O câncer de pulmão não-pequenas células é responsável por 85% a 90% de todos os cânceres primários de pulmão. O osimertinibe é um inibidor irreversível da tirosina quinase do receptor do fator de crescimento epidérmico oral de terceira geração (EGFR-TKI) que mudou significativamente a sobrevida dos pacientes com câncer de pulmão. A cardiotoxicidade relacionada ao osimertinibe, como insuficiência cardíaca, foi relatada como uma incidência extremamente rara. No entanto, pouco se sabe sobre a ocorrência dessa cardiomiopatia nesse perfil de pacientes. No caso relatado demonstramos essa alteração assim como o manejo e evolução.
Apresentação
Paciente de 47 anos, feminino, sem comorbidades, diagnóstico de adenocarcinoma de pulmão metastático com EGFR mutado iniciou tratamento com Osimertinibe. Após 2 anos de tratamento paciente evoluiu com dispnéia importante. Deu entrada no pronto socorro sendo internada para tratamento inicialmente de pneumonia. Realizou ecodopplercardiograma (ECO) que evidenciou fração de ejeção de 16% e hipocinesia difusa. Evoluiu com insuficiência respiratória e choque cardiogênico. Após estabilização do quadro e melhora clínica, paciente realizou Angiotomografia de coronárias que não revelou lesões coronarianas e Ressonância de coração que demonstrou fração de ejeção de 17%, acinesia de toda parede inferior e médio-apical da parede septal e hipocinesia das demais paredes, MAPA T1 de 1038, trombo mural no ventrículo esquerdo e ausência realce tardio. Foi suspenso osimertinibe e iniciado tratamento com sacubitril-valsartana, espironolactona, bisoprolol, dapagliflozina e apixabana. Atualmente, paciente segue acompanhando em ambulatório de cardiologia apresentando-se em classe funcional II e fração de ejeção de 38% ao ECO.
Discussão
Embora a prevalência de insuficiência cardíaca relatada na literatura seja baixa, a cada dia observa-se um aumento nos relatos de casos de pacientes que desenvolvem queda de fração de ejeção e insuficiência cardíaca durante o uso do osimertinibe. Portanto, a conscientização sobre a cardiotoxicidade com risco de vida relacionada ao osimertinibe é crucial. É preciso estar alerta para o potencial de cardiomiopatia como uma das cardiotoxicidades associadas à administração de osimertinibe em pacientes com câncer de pulmão avançado.