INTRODUÇÃO
O tratamento intervencionista percutâneo em pacientes valvares de alto risco cirúrgico tem ganhado espaço nos últimos anos, incluindo os pacientes com prolapso mitral. A despeito de menos invasivo, o tratamento percutâneo não é isento de complicações. Apresentamos um caso de reparo mitral percutâneo com dispositivo tipo MitraClip por insuficiência mitral (IM) primária com uma complicação rara e potencialmente fatal.
RELATO DE CASO
Paciente de 74 anos, sexo masculino, frágil, com diabetes com lesão de órgão alvo (retinopatia e nefropatia), hipertensão arterial e fibrilação atrial, foi avaliado por quadro de insuficiência cardíaca (IC) progressiva. Investigação etiológica descartou coronariopatia e identificou IM importante por prolapso. Caso discutido em Heart Team e optado por reparo mitral percutâneo com dispositivo MitraClip devido ao alto risco cirúrgico (STS Score 7,23%). Procedimento realizado sem intercorrências, com melhora significativa dos sintomas de IC. 2 meses após o procedimento retorna com sinais de IC aguda perfil B, associado à piora do sopro mitral e dor com cianose no pé direito. Realizado novo ecocardiograma transtorácico que não identificou claramente dispositivo de MitraClip na valva mitral e revelou piora importante da insuficiência mitral. Aventado hipótese de embolização do dispositivo, confirmado por meio de escanografia dos membros inferiores: dispositivo hiperdenso projetado em partes moles na região medial da coxa direita distal, em provável trajeto vascular. Paciente foi submetido então a arteriotomia e retirada do MitraClip seguida de angioplastia com implante de stent em artéria femoral superficial direita. Evoluiu com dificuldade no manejo da IC no pós-operatório da cirurgia vascular, com necessidade de altas doses de diureticoterapia endovenosa, sendo indicado troca valvar com prótese biológica e aurilectomia. No intraoperatório foi identificado tecido valvar extremamente friável com sangramento importante no perioperatório. No pós-operatório apresentou derrame pericárdico hemático sendo necessário nova drenagem pericárdica. Posteriormente evoluiu com melhora clínica progressiva e otimização do tratamento da IC, com controle dos sintomas.
CONCLUSÃO
Embolização do mitraclip é um evento extremamente raro, com frequência estimada em 0,5%. Quando presente, é extremamente grave tanto pela piora da insuficiência cardíaca quanto pelo evento vascular ocasiado pela embolização. O reconhecimento rápido e o tratamento por uma equipe multidisciplinar experiente é fundamental para boa evolução do paciente.