Introdução
O cigarro eletrônico popularmente é visto como mais seguro do que o cigarro convencional e, sobretudo na população jovem, o seu risco de dependência é ignorado. Os fumantes de cigarro convencional que migram para o eletrônico acreditam que estão mais seguros com a substituição. Embora a sua comercialização no Brasil seja proibida, o número de usuários de cigarro eletrônico continua crescendo; em consequência, há aumento na procura para tratar tal dependência.
Métodos
No período de maio a dezembro de 2022, foram identificados treze usuários estritos de cigarro eletrônico que procuraram por tratamento de dependência à nicotina no Programa de Assistência ao Tabagismo (PAF) - sistema consolidado de informações médicas utilizado no tratamento do tabagismo. A determinação de cotinina urinária foi feita através do teste rápido NarcoCheck®.
Resultados
Foram incluídos 13 participantes. A idade variou entre 14 e 49 anos, com média de 32,7, sendo 10 homens. O uso de cigarro eletrônico ocorreu de 12 até 60 meses (média de 31,7). 11 usaram dispositivos à base de sal e 2 à base de líquido de nicotina; 8 referiram uso prévio de cigarro convencional. A determinação de monóxido de carbono foi de 2 ppm em todos, sinalizando ausência de consumo de cigarro convencional. Dos 11 participantes que iniciaram o tratamento, 10 foram motivados por dependência ao cigarro eletrônico e 1 por fôlego curto. Em todos, a concentração de cotinina urinária, metabólito da nicotina, foi superior a 600 ng/mL. Dois participantes não iniciaram tratamento por serem menores de idade. Usou-se adesivo e pastilha de nicotina, bupropiona e/ou vareniclina. Inibidores seletivos da recaptação de serotonina e antidepressivos duais foram utilizados quando foi detectado transtorno depressivo ou de ansiedade generalizada associado à dependência à nicotina. Apenas um não cessou o uso de cigarro eletrônico no período analisado; o tempo de abstinência variou de 1 a 4 meses (média de 2,1).
Conclusões
Os resultados da concentração de cotinina urinária sinalizam a elevada presença sérica de nicotina, posto que medidas acima de 600 ng/mL equivalem ao consumo de pelo menos 20 cigarros convencionais por dia. As próprias motivações dos participantes demonstram o grande poder de adição do cigarro eletrônico. Os resultados deste estudo indicam que os métodos utilizados para o tratamento da dependência ao cigarro convencional podem ser usados para essa população. Mais estudos devem ser realizados para melhor compreensão do impacto do uso de cigarros eletrônicos e estratégias de intervenção.