Introdução: Mulheres são sub-representadas em diversas áreas da medicina, entre as quais a Cardiologia, e em posições de liderança. Neste trabalho, avaliamos a participação das mulheres na autoria das Diretrizes, Posicionamentos e Atualizações da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) entre 2008 e 2022.
Métodos: Foram extraídos os dados de autoria (autor principal, coordenadores de comitê e autores), ano de publicação e tema de todas as Diretrizes, Posicionamentos e Atualizações da SBC no período de 2008 a 2022. O sexo dos autores foi consultado em seus perfis públicos. A participação de mulheres enquanto autor principal e a proporção de mulheres entre autores foi definida e avaliada ao longo do período.
Resultados: Foram avaliados 93 Diretrizes, Posicionamentos ou Atualizações. As mulheres foram primeiro autores em 26 (28%) documentos. Entre os 51 documentos com informações sobre coordenadores de comitê, a mediana de participação das mulheres foi de 19% (IQR 25-75 0 a 41%). A proporção de mulheres entre os autores dos documentos foi de 25.9% (IQR 25-75 15 a 39.6%). Apenas 9 documentos tiveram maioria feminina entre os elaboradores (Febre Reumática, 2009; Cardio-oncologia Pediátrica, 2013; Insuficiência Cardíaca no Feto, Criança e Adulto com Cardiopatia Congênita, 2014; Impacto dos Distúrbios do Sono, 2018; Cardiologia Fetal, 2019; Cardio-oncologia, 2020; Hipercolesterolemia Familiar e Exercícios na Gestação e Pós-Parto, 2021; Saúde Cardiovascular nas Mulheres, 2022). Foi observada uma diferença significativa na proporção de autoras quando o coordenador da diretriz é homem ou mulher (22.7% vs 45.7%, IC95% 16.1 a 29.9%). Ao longo do tempo, observa-se um aumento significativo na participação das mulheres enquanto primeiro autor (p=0.004) e uma participação numericamente maior entre autores (p=0.056).
Conclusão: A despeito de recentes avanços, ainda há grande disparidade na participação das mulheres nas Diretrizes, Posicionamentos e Atualizações da SBC, assim como em outras sociedades de Cardiologia no mundo. A participação das mulheres nas Diretrizes contribui com expertise, debates amplos e novas perspectivas, necessárias particularmente no cuidado com as doenças cardiovasculares, que são a principal causa de morbimortalidade entre as mulheres.