Introdução: A incidência de eventos cardiovasculares em pacientes com doença coronária estável pode variar significativamente dependendo de diversos fatores, como região geográfica, renda familiar e acesso ao sistema de saúde. O nível de escolaridade é um dos determinantes desses fatores.
Objetivo: Avaliar a influência da escolaridade nos eventos cardiovasculares e na qualidade do tratamento de pacientes com doença coronária estável em um centro público terciário de saúde no Brasil.
Métodos: Pacientes com doença coronária estável, caracterizada como procedimento de revascularização prévia (cirúrgico ou percutâneo), infarto do miocárdio prévio ou estenose > 50% em pelo menos uma artéria coronária epicárdica que se apresentaram para uma avaliação clínica foram incluídos e acompanhados por pelo menos 3 anos. Os pacientes foram divididos em dois grupos quanto à condição de escolaridade: analfabetos ou alfabetizados. O desfecho primário foi a combinação de infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral ou morte. Também foi avaliada a prescrição, sintomas e os dados laboratoriais.
Resultados: Foram incluídos 688 pacientes com idade média de 65 (±9,4) anos, 30,5% mulheres. Diabetes foi prevalente em 50,7% e hipertensão arterial em 87,1%. Em um acompanhamento médio de 1.463 dias, foram registrados 117 eventos do desfecho primário composto, com incidência de eventos estimada em 4 anos de 17%. Idade (1,08, IC 95% 1,052-1,109), função ventricular esquerda (0,968, IC 95% 0,951-0,987) e LDL (1,009, IC 95% 1,003-1,015) foram os principais fatores prognósticos na análise multivariada. Não houve diferença no desfecho composto primário entre os dois grupos (figura), apesar de uma tendência a eventos mais elevados na população analfabeta. A população analfabeta apresentava mais comorbidades: diabetes (61,4% x 49,3%, p < 0,05), fibrilação atrial (10,8 x 5,1%, p < 0,05) e doença arterial periférica (13,3 x 5,5%, p < 0,05). Além disso, os analfabetos apresentavam mais angina (89,9 x 36,6%, p < 0,05). Não houve diferença na pressão arterial ou no controle do LDL entre os grupos.
Conclusão: Neste estudo, a baixa escolaridade está associada a mais comorbidades e mau controle da angina, mas não a maior incidência de eventos cardiovasculares em seguimento médio de 4 anos.