A IMPOTÊNCIA DA EQUIPE EM PROPICIAR O DESEJO DO PACIENTE DE IR PARA CASA
Apresentação do caso: Com a ampliação da expectativa de vida e o aumento das doenças crônicas, cada vez mais familiares e pacientes são atendidos nos cuidados paliativos. Nessa nova configuração o desafio é a atenção na vontade do paciente que contribua na melhora da qualidade na fase final de vida com foco em alinhar a comunicação e o plano de cuidado.Relatar o trabalho da equipe multidisciplinar e as dificuldades na ida do paciente para casa. Discussão: Ele tinha 89 anos, residia com a esposa e tinha quatro filhos independentes financeiramente. Apresentava hipertensão, insuficiência cardíaca descompensada e lesão renal aguda sendo internado para compensação clínica devido a gravidade das comorbidades e curso inexorável da doença cardíaca. Foi agendada uma reunião familiar com a equipe médica e multiprofissional (assistente social, psicólogo e enfermagem) em que a família consensuou com a equipe por realizar as medidas de conforto clinico em detrimento de medidas invasivas que não prolongassem a sobrevida e aumentasse o sofrimento do paciente. Durante as visitas ele manifestou o desejo de ir para casa e ficar com a esposa. Solicitava alta a equipe até que num dado momento ao apresentar as condições clínicas favoráveis para a alta os filhos não quiseram levá-lo para casa. Frente ao desejo a equipe buscou entender a manifestação contrária da família e era devido ao medo da mãe do marido morrer com ela sozinho. “Sou desprezado pela minha família. Porque vocês não me dão alta? Eu posso me virar muito bem na minha casa.” A equipe trabalhou e buscou oferecer um espaço de apoio e escuta ativa, para gerenciar possíveis dificuldades e desconfortos físicos, e permitir que o impacto emocional fosse expresso e o luto por não ir para casa. Naquele momento, os filhos do paciente acrescentaram uma reflexão sobre os desejos do pai, referindo-se ao arrependimento de tê-lo internado, mas reconhecendo a complexidade de suas escolhas e a impossibilidade dele retornar para casa naquele momento. É importante salientar que após duas semanas em Cuidados Paliativos o paciente foi a óbito na Unidade Hospitalar. Considerações finais: Notou-se a impotência na equipe em alinhar o desejo do paciente com as expectativas da família embora o desejo foi acolhido e trabalhada as emoções, as perdas e dores por não retornar ao lar antes de falecer.