Introdução. A hipotensão ortostática (HO) é marcador de mau prognóstico no diabetes tipo 2 (DM2) e resulta, parcialmente, de arteriosclerose, disfunção autonômica e glicotoxicidade; características envolvidas na aterosclerose. Assim, o objetivo é determinar se esta população tem um risco aumentado de aterosclerose carotídea.
Métodos. O estudo é uma análise transversal e predefinida do Brazilian Diabetes Study, uma coorte prospectiva de centro único de DM2. Após 3 minutos de repouso com os braços na altura do coração, os participantes tiveram a pressão arterial (PA) aferida 3 vezes com intervalo de 1 minuto entre cada aferição e foi considerada a média das 2 últimas. A PA ortostática foi medida como a PA obtida após 1 minuto de pé. A HO foi definida como uma queda da PA sistólica ou diastólica ortostática > 20mmHg e > 10mmHg, respectivamente, quando comparada à PA sentada. Para analisar a calcificação coronariana foi usado o equipamento BiographTM mCT. Com ele, foram realizados cortes de 3mm de espessura, limitados à área cardíaca e que foram sincronizados de acordo com os traçados eletrocardiográficos, através de tomografia computadorizada. Ademais, foram considerados, na época da realização do estudo, calcificações áreas com imagens hipoatenuantes com mais de 130 Unidades de Hounsfield e área maior que 3 pixels adjacentes. Para testar essa hipótese, realizou-se regressão binária utilizando a presença de calcificação coronária como dependente e a variação negativa, por 1mmHg, da PA sistólica.
Resultados. A calcificação coronariana foi detectada em 28,2% (n=382). Em análise univariada, cada queda de 1mmHg da PA sistólica correspondeu a aumento em 3,1% no risco de calcificação coronariana (RR: 1,031; IC95%: 1,012-1,050; p= 0,001). Esta relação foi atenuada, mas manteve-se estatisticamente significativa após ajuste por idade, com risco relativo de 1,024 (IC95%: 1,005-1,043; p= 0,011). Essa relação manteve-se após ajuste pelos fatores tradicionais de calcificação coronariana (idade, sexo masculino, hipertensão e dislipidemia), com aumento em 2,1% no risco da variável dependente para cada queda de 1mmHg da PA sistólica (IC95%: 1,001, 1,041; p= 0,045). De forma contrastante, a queda da PA sistólica não se relacionou ao risco de placa carotídea (RR: 1,002; 95%IC: 0,987, 1,017; p= 0,781) ou ao risco de espessamento médio-intimal (RR: 0,996; 95%IC: 0,981, 1,011; p= 0,580).
Conclusão. A HO está relacionada ao risco aumentado de doença arterial coronariana. O risco de doença coronariana relacionou-se diretamente à queda de PA sistólica em ortostase.