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Hemorragia Alveolar Difusa Por Insuficiência Mitral Reumática

Luíza de Pinho Coelho, Julianna Fonseca Marcelino Queres, Bruna Ila Betlhem Telles, Fernanda Nascimento Dourado, Julia Henrique Costa, Amanda Dias Bomfim, Stephan Lachtermacher Pacheco
Instituto Nacional de Cardiologia - Rio de Janeiro - RJ - Brasil

Introdução: A hemorragia alveolar (HA) é uma condição rara e potencialmente fatal cujas etiologias conhecidas são diversas, sendo as de origem cardiovascular não muito comuns. A insuficiência mitral (IM), comumente associada à tosse e hemoptise, é menos descrita como causa de HA. Relatamos neste trabalho um caso desafiador dessa manifestação incomum em uma paciente jovem.

Relato do caso: Paciente feminina, 14 anos, previamente hígida, internada por quadro progressivo de edema de membros inferiores, dispneia e hemoptise iniciados duas semanas antes, com evolução para insuficiência respiratória aguda. Ao exame físico destacava-se sopro sistólico em foco mitral e estertores pulmonares. A tomografia de tórax apresentava opacidades bilaterais e focos de consolidação. O Ecocardiograma (ECO) transtorácico exibia boa função ventricular e diâmetros cavitários normais, IM grave por falha de coaptação dos folhetos e imagem filamentar aderida ao folheto anterior sugestiva de ruptura de cordoalha. De forma empírica foi tratada para endocardite infecciosa, mas não havia vegetações ao ECO transesofágico ou germes isolados em hemoculturas. Houve progressão do quadro pulmonar, com HA confirmada por broncoscopia e biópsia, além de concomitante piora da função renal, proteinúria nefrótica e hematúria microscópica. Empregou-se terapia imunossupressora com corticoide e pesquisa extensiva para vasculites e outras doenças sistêmicas. O anticorpo anti-DNAse-B foi o único marcador sorológico positivo (inicialmente em altos títulos), possibilitando o diagnóstico de glomerulonefrite estreptocócica associada à cardite reumática. A cirurgia de troca valvar mitral foi empregada e houve progressiva melhora clínica, com resolução quase completa do quadro pulmonar e sistêmico após algumas semanas. Análise histopatológica da vávula evidenciou somente degeneração mixomatosa.

Discussão: A HA causada por IM aguda ocorre devido ao aumento súbito da pressão atrial esquerda, que resulta em altos níveis de pressão venosa pulmonar e consequente dano capilar. A deterioração hemodinâmica depende da etiologia e do grau de regurgitação. Quando secundária à cardite reumática aguda, cada vez menos comum na prática médica, a condição pode ser ainda mais desafiadora. 

Conclusão: O caso descrito ilustra a concomitância da glomeluronefrite e da cardite reumáticas em uma mesma paciente e destaca a necessidade de se considerar a etiologia valvar nos casos de hemorragia alveolar, visto que a abordagem diagnóstica direcionada e a indicação de intervenção cirúrgica precoce são essenciais nessa situação.

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