Introdução: a fibrilação atrial (FA) está associada com pior prognóstico na insuficiência cardíaca (IC), mas a influência da FA nos diferentes fenótipos de IC em relação à classificação pela fração de ejeção (FE) tem sido pouco estudada.
Objetivo: analisar as características e influência da FA no prognóstico da IC de FE reduzida (FE ≤40%), levemente reduzida (FE: 41% a 49%) e preservada (FE ≥50%).
Métodos: Registro retrospectivo unicêntrico de pacientes com IC (CID: I50) com até 3 anos de seguimento, com relação às características clínicas, mortalidade, internação e atendimento na emergência.
Resultados: Foram estudados 11.763 pacientes com IC (idade: 64,1±14,0 anos, 55,1% sexo masculino, 42% com ICFEr, 12,8% com ICFElr e 45,1% com ICFEp). A prevalência de FA foi de 16,8% na ICFEr, 21,2% na ICFElr e 23,6% na ICFEp. A FA foi associada com idade média maior (67,9±13,2 vs 63,2±14,1 anos, p<0,001), sexo masculino (57,1% vs 54,5%, p=0,023), mais frequente em pacientes com IC de etiologia valvar e chagásica, doença renal crônica, história de acidente vascular cerebral, anemia e submetidos a cirurgia para troca valvar. A mortalidade global desse coorte retrospectivo foi de 21,8%, sendo que a mortalidade foi 2,4 vezes maior nos pacientes com FA (41,1% vs 16,9%, p<0,001). A taxa de internação também foi maior nos pacientes com FA (30,3% vs 19,4%, p<0,001), bem como o atendimento no serviço de emergência (38,4% vs 25,7%, p<0,001). O sexo masculino, idade >60 anos, etiologia valvar e chagásica, doença renal crônica, história de AVC e anemia foram fatores associados com maior risco de FA na IC. Na avaliação da sobrevida pelo método de Kaplan-Meier, os pacientes com FA apresentaram sobrevida menor em todas os fenótipos da IC: ICFEr (52% vs 77%, p<0,001), ICFElr (64% vs 85%, p<0,001), ICFEp (63% vs 86,0%, p<0,001). Na análise de regressão multivariada por Cox, a FA foi preditor independente de morte em todas as classes de IC: ICFEr [HR = 1,8 (IC95%: 1,5 – 2,0), p<0,001], ICFElr [HR = 2,0 (IC95%: 1,5 – 2,5), p<0,001], ICFEp [HR = 2,0 (IC95%: 1,7 – 2,3), p<0,001].
Conclusão: A FA é comorbidade frequente na IC e associada com pior prognóstico em todos os fenótipos desta síndrome. São necessárias mais evidências para se estabelecer a melhor estratégia terapêutica da FA na IC, para a melhora do prognóstico desta condição clínica.