Introdução: Doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) estão presentes em mais de 45% da população adulta no Brasil, são responsáveis por 72% das mortes no país, sendo as doenças cardiovasculares as mais prevalentes. A insuficiência cardíaca (IC) é uma DCNT de importante epidemiologia, de progressivas síndromes hemodinâmicas, biológicas, anatômicas e funcionais que comprometem demandas metabólicas e teciduais. Essas alterações presentes no dia-a-dia da equipe interprofissional, torna relevante o quanto implicam na tomada de decisão da conduta e do momento ideal da abordagem. Relato de caso: Mulher, 37 anos, com paralisia cerebral, histórico de maus tratos e negligência nos cuidados (físico, emocional e educacional), internada por inapetência, vômitos, icterícia, febre, rebaixamento do nível de consciência e taquidispnéia sendo necessário intubação orotraqueal e drogas vasoativas. A Odontologia foi acionada para avaliação no 4° pós-operatório de drenagem de abscesso hepático, paciente encontrava-se eupneica, em ar ambiente e estável hemodinamicamente. O exame clínico odontológico mostrou dentição parcial em péssimo estado de conservação, mobilidade dentária grau 2/3, múltiplas raízes residuais, saburra lingual e grande quantidade de cálculo dentário generalizado. Não havia sinais de infecção aguda em cavidade oral e neste momento a paciente estava no 4° dia de uso do Tazocin, prescrito no pós-operatório cirúrgico. Após discussão do caso com equipe intensivista foi proposta a abordagem cirúrgica sob anestesia geral para redução de focos infecciosos bucais. No dia da cirurgia a paciente encontrava-se instável, dispneica, com anasarca, em uso de máscara de oxigênio (10 litros), Saturação de O2 = 87% e com NT-proBNP = 1.765,36 pg/ml caracterizando quadro de IC e por estes motivos, após discussão interdisciplinar odontologia/anestesia, optou-se pelo cancelamento do procedimento cirúrgico. Nas 24 horas seguintes, a paciente evoluiu com desconforto respiratório e foi transferida para unidade de terapia intensiva onde confirmou-se IC congestiva e insuficiência valvar mitral discreta. Após 30 dias a paciente ainda não se encontra com estabilidade clínica cardiológica para ser submetida ao procedimento cirúrgico odontológico proposto. Conclusão: É desafiador o estabelecimento de cuidados de prevenção de endocardite infecciosa em pacientes de risco e a necessidade de remoção de focos infecciosos bucais em indivíduos com cardiopatias graves e instáveis. Esta decisão deve envolver sempre a equipe multidisciplinar para a execução das condutas clínicas e cirúrgicas.