INTRODUÇÃO A pericardite aguda é a doença cardíaca inflamatória mais comum. É benigna e autolimitada, no entanto, em alguns casos, podem ocorrer complicações a curto prazo e potencialmente fatais se não for prontamente reconhecida e tratada. METODOLOGIA As informações foram obtidas por meio de revisão de prontuário, dados extraídos do paciente e equipe médica e revisão de literatura. RESULTADOS Masculino, 33 anos, sem comorbidades conhecidas, procura Pronto Socorro por dor torácica atípica com piora durante inspiração e leve melhora em posição sentada, associada a lipotímia e febre 38ºC há um dia. Paciente em regular estado geral, PA 90 x 60 mmHg, sem outras alterações. ECG ritmo sinusal com supra ST 1 mm difuso e infra PR em DII e DIII. Aventado hipótese de pericardite e solicitado exames iniciais. PCR 66, VHS 120, Rx de tórax sem alterações. Ecocardiograma transtorácico com discreto derrame difuso, sem sinais de restrição no momento. Iniciado colchicina e AINE, solicitado ressonância magnética cardíaca (RMC) que confirmou pericárdio com edema e derrame pericárdico importante com sinais incipientes de restrição. Evoluiu com sinais de tamponamento, realizado drenagem pericárdica de 600 ml de líquido hemático e em cultura do líquido crescimento de Cutibacterium acnes. Iniciado ceftriaxone, paciente evoluiu sem intercorrências. Recebeu alta para término da antibioticoterapia e seguimento ambulatorial. RMC 30 dias após com pericárdio sem sinais inflamatórios. DISCUSSÃO A etiologia viral é a causa mais comum de pericardite, representando de 80-85% dos casos. Quando foge do habitual, outras formas infecciosas e não infecciosas disputam espaço. A C. acnes são bacilos presentes na microbiota da pele, e por isso o seu crescimento é frequentemente descartado e atribuído à contaminação da cultura. C. acnes é uma causa rara de pericardite, embora a incidência possa ser subestimada. O tempo de incubação mais longo necessário para o crescimento de C. acnes pode resultar em subdetecção, pois a maioria dos sistemas hospitalares descartam hemoculturas após cinco dias. Assim, quando identificado como o patógeno causador de infecções pericárdicas, comumente leva a inflamação, derrames pericárdicos e fisiologia constritiva devido seus efeitos imunoestimulantes que promovem infiltração de células inflamatórias e fibrose. CONCLUSÃO Apesar da pericardite ter uma evolução benigna e autolimitada, o seu reconhecimento precoce atrelado a investigação etiológica que possibilite seu tratamento adequado é fundamental devido à elevada mortalidade nos casos de complicação.
