Introdução: A lipoproteína (a) [Lp(a)] é uma lipoproteína de baixa densidade composta por moléculas de apolipoproteína (a) ligadas a moléculas de apolipoproteina B por pontes dissulfeto. Estima-se que aproximadamente 20-25% da população possui níveis de Lp(a) ≥ 50 mg/dL, valor considerado de risco elevado para doenças ateroscleróticas. Porém, estudos epidemiológicos e observacionais não são unânimes em mostrar associação entre níveis elevados de Lp(a) e com maior incidência de eventos cardiovasculares (CV) em mulheres e homens. Esse estudo analisou a influência da Lp(a) na mortalidade por todas as causas em mulheres e homens com síndrome coronária crônica.
Métodos: O estudo analisou características clínicas, laboratoriais e o prognóstico de pacientes portadores de síndrome coronária crônica (SCC) com dosagem laboratorial de lipoproteína (a), categorizada em valores <50 e ≥50 mg/dL. As características clínicas analisadas foram sexo, idade, IMC, valores de pressão arterial, presença de comorbidades, número de internações e tempo de seguimento ambulatorial. As comorbidades analisadas no estudo foram diabetes mellitus (DM), dislipidemia, hipertensão arterial sistêmica, tabagismo, insuficiência cardíaca, infarto agudo do miocárdio (IAM) e acidente vascular cerebral.
Resultados: Estudamos 1.168 pacientes, média de idade de 64,5 ± 10,9 anos, 833 (71,3%) do sexo masculino, e tempo de seguimento de 4,98±2,5 anos. A concentração sérica da Lp(a) na população foi de 48,9±49,1 mg/dL. A prevalência de valores de Lp(a) ≥50 mg/dL foi maior nos homens comparada às mulheres (64,3% vs. 35,7%; p<0,0001); menor no IAM na população total (33,4% vs. 66,6%; p=0.029), mas maior nos homens com IAM comparados às mulheres com IAM (66,8% vs. 33,2%; p=0,003); menor também no DM, porém com significância marginal (39% vs. 61%; p=0,052). Valores de Lp(a) ≥50 mg/dL associaram-se com maiores níveis de HDL (p=0,001) e menores de triglicérides (p=0,002) nos homens, mas não nas mulheres. A mortalidade foi de 8% vs. 4,5% (p=0,874) para valores de Lp(a) <50 ou ≥50 mg/dL, respectivamente. A incidência cumulativa de óbito foi também semelhante para valores de Lp(a) <50 ou ≥50 mg/dL (Kaplan-Meier log-rank p=0,838)(Figura). A Lp(a) não foi uma variável independente para morte na população total, nas mulheres e nos homens.
Conclusão: a Lp(a) não foi um fator de risco para IAM e morte por todas as causas.
