Introdução: As cardiopatias de origem genética, com herança mendeliana, são frequentes e podem beneficiar-se da identificação de variantes patogênicas, que auxiliam no diagnóstico, prognóstico, terapia individualizada e rastreamento familiar. Apesar disso, a população brasileira carece de estudos genotípicos sistemáticos em pacientes com cardiopatias genéticas. Este trabalho tem como objetivo criar um registro brasileiro de pacientes com cardiopatias genéticas, visando à identificação de variantes patogênicas em genes associados aos fenótipos.
Métodos: Foram incluídos pacientes com diagnóstico clínico de cardiomiopatias, dislipidemias, arritmias genéticas, aortopatias, cardiopatias congênitas e RASopatias. Foram coletados dados clínicos e realizado sequenciamento do exoma ou genoma completo dos pacientes para identificar variantes genéticas raras associadas aos fenótipos patogênicos.
Resultados: Até o final de janeiro de 2023, 1805 probandos foram incluídos, com idade mediana de 50 (36-61) anos, sendo 46,8% do sexo feminino. O diagnóstico clínico principal dos probandos foi: cardiomiopatia em 1061 (58,8%), aortopatia em 308 (17,1%), dislipidemia em 171 (9,5%), arritmia em 156 (8,6%), cardiopatia congênita em 104 (5,8%) e RASopatia em 5 (0,2%). Foram liberados 290 resultados de teste genético, dos quais 124 (42,8%) apresentaram variantes patogênicas ou possivelmente patogênicas, 69 (23,8%) apresentaram variantes de significado incerto (VUS) e em 97 (33,4%) não foram encontradas variantes associadas ao fenótipo do paciente. Os principais genes associados a cardiomiopatias foram MYH7, MYBPC3, TTN, TTR, TPM1 e PKP2; dislipidemias foram associada ao gene LDLR e a arritmias ao gene SCN5A. Ainda não foram divulgados resultados significativos para pacientes com aortopatias, RASopatias e cardiopatias congênitas.
Conclusões: Este registro brasileiro de pacientes possui uma ampla diversidade de doenças cardíacas monogênicas. Foram descritas as características fenotípicas e genotípicas desses pacientes. Observou-se uma alta proporção de testes genéticos com variantes patogênicas ou possivelmente patogênicas. Os resultados podem impactar o planejamento de estratégias em Medicina de Precisão Cardiovascular, aumentando a eficácia diagnóstica e prognóstica, e abrindo oportunidades para a investigação de novos mecanismos e terapias associados a estas doenças cardiovasculares.