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O que está acontecendo com Insuficiência Cardíaca nos serviços públicos do Brasil? Uma visão a partir de análises de dados do DATASUS

Tainá C. Pellini Simões, Rosane A. Monteiro, Afonso D. Costa Passos, Marcus V. Simões
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP - Ribeirão Preto - SP - Brasil, Centro Universitário Barão de Mauá - Ribeirão Preto - São Paulo - Brasil

Introdução: A insuficiência cardíaca (IC) é uma condição associada à elevada mortalidade e morbidade e estudos recentes têm mostrado aumento da sua prevalência no mundo todo. Contudo, há grande escassez de dados epidemiológicos sobre IC no Brasil. O objetivo do presente estudo foi atualizar os dados epidemiológicos de IC no Brasil, utilizando as bases de dados do DATASUS.

Métodos: A partir de acesso da plataforma online do DATASUS, extraímos dados sobre hospitalizações gerais e letalidade intra-hospitalar pelas principais doenças cardiovasculares (DCV): IC, infarto agudo do miocárdio (IAM) e acidente vascular cerebral (AVC), usando os códigos de CID respectivos. A mortalidade por IC na população geral brasileira foi levantada a partir da plataforma Sistema de Informações sobre Mortalidade.

Resultados: Entres os anos de 2008 e 2019 observamos aumento das internações gerais no SUS de 12,3% (de 10.848.552 para 12.185.437 internações), enquanto as internações pelas principais doenças cardiovasculares somadas (IC, IAM, AVC) tiveram aumento discreto de 1.106.568 para 1.180.508 (aumento de 6,7%). No mesmo período as internações por IC se reduziram em 26,2% (de 270.998 para 199.858 internações), representando 2,5% e 1,6% das internações gerais nos respectivos anos. Em paralelo, apesar da redução das internações, a letalidade intra-hospitalar por IC aumentou no mesmo período, de 8,3% para 11,4%. Em termos de comparação, as internações por IAM, no mesmo período, aumentaram de 63.388 para 132.173 internações, aumento de 108%, mas exibiram redução de letalidade intra-hospitalar de 13,6% para 9,7%. Para AVC, observamos aumento de internações de 123.613 para 184.739 internações (aumento de 49%), com redução de letalidade intra-hospitalar de 16,8% para 14,3%.

A partir do Sistema de Informações sobre Mortalidade, observamos no mesmo período significativa redução da mortalidade por IC no Brasil partindo de 14,4 mortes/100.000 habitantes em 2008 e atingindo 12,9 mortes/100.000 habitantes em 2019.

Conclusões: A letalidade intra-hospitalar por IC no Brasil vêm se elevando nos últimos anos, em paralelo à redução significativa do número de internações, principalmente se comparada às outras DCV. Esses dados apontam para uma seleção de casos mais graves para internação hospitalar frente à restrição de oferta de leitos no SUS. Esses resultados mostram uma tendência a subestimar-se a gravidade da IC descompensada frente a outras DCV como o IAM e AVC. É necessária e urgente a educação dos médicos e gestores públicos sobre o real significado prognóstico da IC no Brasil.

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