Paciente 29 anos com antecedente de bloqueio atrioventricular total em uso de marcapasso bicameral em 2011, apresentou durante avaliação de rotina episódios de “alta frequência ventricular” em interrogação do marcapasso.
Para investigação dos achados foram solicitados ecocardiograma transtorácico que evidenciou dilatação moderada de câmaras esquerdas, hipocinesia difusa e fração de ejeção de 34%. Holter evidenciou extrassístoles ventriculares (EV) polimórficas frequentes, totalizando 22,3% do total de batimentos, com múltiplos episódios de taquicardias ventriculares não sustentadas (TVNS) e 1 episódio de taquicardia ventricular polimórfica sustentada de 9,5 segundos relacionada a sintomas compatíveis com instabilidade (tontura e escurecimento visual).
Paciente foi convocada para internação e apresentava sinais clínicos de insuficiência cardíaca (IC) descompensada perfil B. Solicitado um exame de beta-HCG revelou que a paciente encontrava-se gestante e foi também diagnosticada Doença de Chagas por um exame ELISA positivo.
A paciente iniciou tratamento com diuréticos, vasodilatadores e betabloqueador com melhora dos sintomas de IC. Após compensação do quadro de IC e otimização de betabloqueador um novo holter foi realizado, mantendo alta densidade de EV e TVNS (totalizando 24% dos batimentos).
O caso foi levado à discussão multidisciplinar (obstetrícia e cardiologia), visto a dificuldade de usar drogas anti-arrítmicas devido à gestação e após considerar riscos e benefícios e os desejos da paciente, foi optado por prosseguir com a gestação e implantar CDI para profilaxia secundária.
Realizado implante de CDI com 16 semanas de gestação, no procedimento realizado punção de veia axilar guiada por ultrassom, além de 2 acessos em veia femoral para passagem de ultrassom intracardíaco (USIC) e cateter de mapeamento eletroanatômico. Realizado posicionamento do eletrodo guiado por mapa eletroanatômico e USIC no septo apical do Ventrículo direito. Todo o procedimento foi realizado sem o auxílio de fluoroscopia. Após o procedimento a paciente recebeu alta 1 dia após o procedimento
Em seguimento ambulatorial. Durante interrogações do CDI ambulatoriais paciente ainda mantendo EV com redução da densidade conforme o avançar da gestação, seguimento fetal sem intercorrências pela equipe da obstetrícia, realizou parto cesariano associado a laqueadura tubária com 38 semanas e 3 dias de idade gestacional, eletivamente por indicação obstétrica, sem intercorrências maternas ou fetais, recebeu alta após 3 dias e continua em seguimento ambulatorial em nosso serviço.