A pericardite pós-infarto agudo do miocárdio ocorre em aproximadamente 5% a 6% dos pacientes que recebem trombolíticos. Ocorre nos primeiros 2 a 4 dias após o infarto, principalmente nas primeiras 24 horas, e geralmente produz apenas sintomas leves. No entanto, complicações raras incluem hemopericárdio, tamponamento cardíaco e pericardite constritiva. O tratamento é principalmente de suporte, com uso adequado de agentes anti-inflamatórios não esteroides. Entretanto, a pericardiocentese é indicada para tratar um grande derrame pericárdico, principalmente se acompanhado de tamponamento.
Paciente do sexo masculino, 63 anos, hipertenso e tabagista, foi transferido ao nosso hospital 24 horas após episódio de infarto anterior do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST (IAMCST). O paciente foi inicialmente tratado em outro serviço com AAS e clopidogrel e foi trombolisado com tenecteplase, com critérios de reperfusão. Após admissão em nosso serviço, foi encaminhado ao cateterismo, sendo constatada doença arterial coronariana triarterial significativa e indicada cirurgia de revascularização do miocárdio. Dessa forma, foi suspenso do clopidogrel e realizada anticoagulação plena com enoxaparina. O paciente permaneceu assintomático, mas um ecocardiograma transtorácico no segundo dia após o IAMCST revelou um derrame pericárdico de 25 a 30 mm com sinais de restrição de enchimento ventricular e nenhuma evidência de disfunção do ventrículo esquerdo (VE) ou ruptura da parede livre do VE. Ainda no mesmo dia, paciente evoluiu com hipotensão grave, necessitando de drogas vasoativas. Por esse motivo, paciente foi encaminhado prontamente ao centro cirúrgico, onde foi realizada pericardiocentese de urgência e retirados 900ml de líquido hemático. Logo após, o paciente evoluiu com melhora hemodinâmica importante. O exame histopatológico de um fragmento de pericárdio revelou o diagnóstico de pericardite fibrino-hemorrágica aguda.
Tamponamento pericárdico hemorrágico após infarto raramente ocorre, com uma incidência relatada de apenas 1% dos pacientes com IAMCST tratados por trombólise, geralmente nas primeiras 24 horas. Apesar de ser uma complicação rara, o presente caso chama a atenção para o fato de que hemopericárdio e tamponamento cardíaco podem ocorrer em pacientes que sofreram infarto agudo do miocárdio e devem ser incluídos no diagnóstico diferencial naqueles que apresentam instabilidade hemodinâmica.