Introdução: Nos últimos anos, estudos têm relatado resultados conflitantes sobre a associação entre a força de preensão manual (FPM) e níveis de pressão arterial durante a infância e a adolescência. A elevada multicolinearidade entre variáveis relacionadas ao crescimento somático que influenciam a FPM e a pressão arterial pode ser uma importante fonte de viés entre os estudos.
Objetivo: investigar os efeitos independentes da FPM e da massa muscular nos níveis de pressão arterial de crianças e adolescentes.
Métodos: Foram avaliados 833 voluntários, de ambos os sexos e com idade entre 6 e 18 anos. Amassa muscular e a massa gorda foram determinadas por bioimpedância elétrica tetrapolar multifrequencial. A pressão arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD) foram mensuradas por meio de um dispositivo oscilométrico automático. Os quartis de força por idade foram calculados e os participantes foram estratificados em grupos por quartis de FPM. A análise de covariância ajustada para altura, massa muscular e massa gorda, foi realizada para avaliar a associação linear entre FPM e PAS. O ETA ao quadrado foi usado para confirmar ou descartar o tamanho do efeito significativo das variáveis independentes na variação da PAS.
Resultados: Em um modelo ajustado para variáveis de confusão, a FPM não foi positivamente associada com a PAS em meninas. Nos meninos, os grupos do 2° (106 ± 0,7 mmHg) e 3° quartis (106 ± 0,8 mmHg)de FPM apresentaram maior PAS que o grupo do 1° quartil (104 ± 0,7 mmHg) de FPM. Contudo, essas diferenças foram pequenas e não lineares (p paratendência linear= 0,536). O tamanho do efeito da FPM na variação da PAS não foi significativo em ambos os sexos. Nas meninas, 1,7% da variação da PAS entre os grupos foi explicada pela massa muscular (p = 0,016). Nos meninos, 2,3% e 1,8% da variação da PAS entre os grupos foi explicada pela massa muscular (p<0,001) e altura (p<0,005), respectivamente.
Conclusão: A FPM não foi independentemente associada com a PAS. Considerando a plausibilidade fisiológica, as crianças com maturidade física mais avançada para a idade, ou seja, são mais altas, mais fortes e têm maior massa livre de gordura, possivelmente estão quase atingindo os parâmetros fisiológicos da idade adulta e, consequentemente, apresentam pressão arterial mais alta, o que não significa que elas tenham maior chance de serem hipertensas.