INTRODUÇÃO: Estudos recentes têm sugerido que a amiloidose cardíaca (AC) não seja uma doença rara, mas potencialmente subdiagnosticada. Eessa cardiomiopatia infiltrativa cursa com espessamento das paredes do ventrículo esquerdo (VE), podendo ser o diagnóstico diferencial de cardiopatias com aspecto morfológico de hipertrofia ventricular esquerda (HVE). O objetivo do presente estudo foi investigar a prevalência da AC em uma população de pacientes consecutivos não selecionados com hipertrofia ventricular esquerda submetidos ao ecocardiograma atendidos em um hospital de referência. MÉTODOS: Estudo clínico unicêntrico, observacional e retrospectivo envolvendo pacientes consecutivos não selecionados submetidos a ecocardiograma (ECO) por diferentes razões clínicas em um hospital de referência de nível terciário, no período de 2017 a 2019. Foram incluídos indivíduos ≥18 anos, exibindo HVE ao ECO e não relacionada à hipertensão arterial sistêmica (HAS), caracterizado peloaumento de espessura em qualquer segmento e, caso septal, espessura > 12 mm. Posteriormente, foi realizada uma busca ativa em prontuário médico do diagnóstico final da etiologia da HVE, além da revisão e análise de outras imagens cardíacas realizadas. O diagnóstico final de AC foi realizado através de exames de imagem (99mTc-pirofosfato) e testes genéticos de rastreamento para mutações interligadas a fenótipos hipertróficos. RESULTADOS: A busca inicial resultou em 1233 pacientes com HVE. Destes, foram identificados 100 pacientes que atenderam ao critério de inclusão e exclusão. Essa população foi composta por 46% de indivíduos do sexo masculino, idade de 54,8 ± 14,6 anos e FEVE de 59,1 ± 13,1%. A AC foi evidenciada em 10 indivíduos (10%), sendo 9 diagnosticados com AC por transtirretina, sendo 7 hereditários e 2 wild type, e 1 como AC secundária. A prevalência estimada da AC foi de 10%, sendo a amostra composta por 80% do sexo masculino, idade de 70,2 ± 9,6 anos e a média de FEVE = 52,7±15,3%. Outros diagnósticos da HVE estavam relacionados a mutações de genes de proteínas de sarcômero (63%), doença de Fabry (3%), mitocondrial (1%) e outras causas (24%). CONCLUSÃO: Em uma coorte de adultos atendidos em hospital terciário, com achados de HVE na ecocardiografia, não secundária à HAS e septo interventricular > 12 mm, a prevalência de AC foi de 10%. Esses reforçam a noção de que a busca por AC em cenários específicos pode permitir a identificação de número significativo de casos que podem ser elegíveis para tratamentos específicos.