Introdução: As complicações mecânicas (CM) após infarto agudo do miocárdio (IAM) são raras, quando realizada terapia de reperfusão, e potencialmente letais. Incluem ruptura da parede livre do ventrículo esquerdo (VE), comunicação interventricular (CIV) e insuficiência mitral aguda. Incidência é estimada em cerca de 3 por 1.000 pacientes com IAM. Ultrassonografia point of care (POCUS) possibilita rápida avaliação não invasiva no departamento de emergência, podendo ser útil na detecção das CM.
Caso clínico:
Paciente do sexo feminino, 80 anos, antecedente de hipertensão arterial, diabetes mellitus e dislipidemia. Procura o pronto-socorro por dor precordial opressiva de forte intensidade, com irradiação para ombros e mandíbula, relação com esforços. Início dos episódios de dor há 4 dias, mas mais intensa na noite anterior. À admissão na Sala de Emergência, ainda com precordialgia, sudorese, taquipneia (24 irpm), taquicardia (104 bpm), sopro holossistólico panfocal 5+/6 mais audível no foco mitral, normotensa e com pulmões limpos. Eletrocardiograma em ritmo sinusal, bloqueio divisional anterossuperior esquerdo, supradesnivelamento do segmento ST de 1 mm em DIII e discreto infradesnivelamento do segmento ST na parede lateral alta. Troponina positiva. POCUS evidenciou alteração segmentar e CIV de aproximadamente 10 mm. Paciente evoluiu com hipotensão, necessitando de droga vasoativa. Ecocardiograma evidenciou acinesia da parede inferolateral e inferior do VE/ função global do VE preservada/ CIV muscular com formação de pseudoaneurisma da região basal da parede inferior. Foi indicada cirurgia cardíaca e paciente foi transferida para unidade de terapia intensiva.
Discussão: As CM são menos frequentes após as terapias de reperfusão e devem ser suspeitadas em pacientes com um novo sopro, insuficiência cardíaca aguda ou choque cardiogênico. Fatores de risco para seu surgimento são sexo feminino, idade mais avançada e reperfusão tardia. No caso relatado, evidenciou-se a associação de pseudoaneurisma e CIV como complicação do IAM. O diagnóstico da CM, evidenciado inicialmente por POCUS, foi confirmado pelo ecocardiograma.
Conclusão: Apesar do avanço das técnicas, complicação mecânica do infarto ainda tem alta mortalidade, o que reforça a necessidade do seu reconhecimento precoce, sendo o tempo definidor de prognóstico. POCUS pode ser uma ferramenta de triagem de grande utilidade nesses casos, com impacto no tempo para o diagnóstico.