Introdução
A elevação da pressão arterial (PA) é um dos fatores contribuintes de maior impacto no desenvolvimento de doenças cardiovasculares. O padrão morning surge, caracterizado pela elevação da PA média 2h após o despertar; e o padrão reverse dipping com valores mais elevados da PA noturna. Esses padrões são observados na Monitorização Ambulatória da Pressão Arterial (MAPA), possuem substrato fisiopatológico ligado a disautonomia, principalmente em pacientes com diabetes mellitus tipo 2 (DM2) há mais de 8-10 anos, e se associam ao aumento no risco de eventos cardiovasculares. Entretanto, há uma necessidade explícita de estudar o impacto do DM2 sobre os padrões da MAPA ligados a disautonomia em uma população diabética com menos 5 anos de doença.
Métodos
O estudo foi caracterizado por uma coorte retrospectiva e longitudinal, totalizando 923 pacientes adultos. A MAPA foi realizada em uma grande rede de clínicas de Brasília-DF entre janeiro de 2018 e janeiro de 2019, sendo os pacientes divididos em portadores ou não de DM2. Os dados clínicos foram recuperados de prontuários eletrônicos e para as analises estatísticas foram aplicados o teste qui-quadrado e o método de regressão logística binária.
Resultados
Dos 923 pacientes 241 apresentavam o diagnóstico de DM2 com tempo médio de diagnóstico de 4.9±3.5 anos, com 140 (58,1%) do sexo feminino e 101 (41,9%) do sexo masculino. Em relação ao padrão de PA, 159 (17,2%) pacientes apresentaram o modelo reverse dipping, sendo que 48 (19,9%) deles apresentavam o diagnóstico de DM2. Para o padrão morning surge o estudo identificou 163 (17,7%) indivíduos, e dentre estes, 50 (20,7%) com o diagnóstico de DM2. Ao agruparmos os pacientes com padrões disautonômicos na MAPA, observamos que o DM2 se associava a estes padrões (40,7% no DM2 e 32,7% no não diabético, p=0.029).
A regressão logística considerando padrões disautonômicos na MAPA como variável dependente e ajustada para tabagismo, hipotireoidismo, obesidade, apneia do sono e doença arterial coronariana, demonstrou que a presença de DM2, em pacientes com menor tempo de diagnóstico, estava associada a um maior risco de desenvolvimento de padrões disautonômicos (OR 1,5 IC 95% 1,0 - , p=0.015).
Conclusões
Os resultados demonstraram um comportamento similar dos padrões morning surge e reverse dipping entre os pacientes com DM2 diagnosticados mais recentemente e aqueles com mais tempo de diagnóstico. Portanto, é imprescindível o monitoramento precoce da PA nos pacientes diagnosticados com DM2, no intuito de diminuir os eventos cardiovasculares nessa população.