Introdução: As doenças da valva mitral são comuns, sendo a cirurgia a opção terapêutica mais indicada. A necessidade de intervenções menos invasivas levou ao desenvolvimento do implante valvar transcateter nos pacientes de alto risco. Entretanto, o tratamento das disfunções de tais endopróteses mitrais ainda tem poucas informações na literatura.
Relato de Casos:
Caso 01: Paciente de 76 anos, sexo feminino, submetida a troca valvar mitral por prótese biológica em 2012 (Inovare, Braile®, número 29) devido a insuficiência mitral por prolapso de valva mitral. Em 2021, após estenose da prótese biológica, realizou Valve-in-Valve (ViV) com implante de prótese biológica (Inovare, Braile®, número 26) por via transapical. Dez meses após, foi admitida com dispneia limitante, sinais de insuficiência cardíaca e anemia hemolítica. A ecocardiografia mostrou deslocamento da endoprótese mitral em direção ao átrio esquerdo, gerando insuficiência periprotética importante. Como mantinha alto risco cirúrgico (Euroscore 16,68%), foi optado pelo implante de nova endoprótese (Inovare, Braile®, número 28) por via transapical (re-ViV), realizado sem intercorrências.
Caso 02: Paciente de 69 anos, sexo feminino, com antecedente de três cirurgias valvares mitrais prévias devido a valvopatia reumática: em 1995, troca valvar por prótese mecânica; em 1999, troca da prótese mecânica por prótese biológica; e em 2013, devido ao alto risco cirúrgico e às condições clínicas desfavoráveis, realização de ViV mitral (prótese Inovare, Braile®, número 26). Em 2019, evoluiu com disfunção da endoprótese, gerando dispneia limitante e congestão pulmonar. A ecocardiografia mostrou endoprótese mitral sem mobilidade dos folhetos anterolateral e posterior, com gradientes mitrais máximo e médio de 23mmHg e 12mmHg, respectivamente. Após discussão no Heart Team, devido a risco cirúrgico elevado (Euroscore II 5,49%) e fragilidade, foi optado pela realização de re-ViV transapical (endoprótese Inovare, Braile®, número 24), realizado sem intercorrências.
Conclusão: Embora haja dados favoráveis ao ViV mitral, o re-ViV ainda encontra respaldo apenas em relatos de casos. Épossível que em pacientes de risco elevado haja maior benefício do re-ViV, quando comparado à estratégia cirúrgica. Entretanto, é imperativo que tal hipótese seja mais bem avaliada em estudos futuros.