Introdução: O supradesnivelamento do segmento ST no eletrocardiograma (ECG) pode ocorrer por diversas causas, sendo uma das principais o infarto agudo do miocárdio (IAM) que implica em tomadas de condutas imediatas. O conhecimento de outras etiologias, pode ser essencial para o diagnóstico correto. Em paciente com fístula arteriovenosa, alteração por presença de artefato no eletrocardiograma deve questionada, principalmente em pacientes assintomáticos.
Relato de caso: Paciente, masculino, 71 anos, hipertenso, renal crônico dialítico e com revascularização miocárdica prévia foi submetido ao transplante renal. No quarto dia pós-operatório desenvolveu dor torácica atípica com ECG mostrando alterações dinâmicas, com supra do segmento ST de 2mm associado a ondas T invertidas e profundas com base alargada em DII, DIII e AVF. (Figura 1). O paciente foi transferido para serviço de cardiologia. Na admissão estava assintomático, sem queixas de dor torácica. O ECG não apresentava alterações isquêmicas, com ritmo sinusal e segmento ST normal (Figura 2). Ao exame físico, mostrava-se com sinais de congestão sistêmica e estava oligúrico. Foi solicitado cateterismo para diagnóstico, porém suspenso por pouca tolerância ao decúbito dorsal por congestão pulmonar. Na evolução, o paciente não apresentou elevação ou curva de troponina, com os ECG de controle sem alterações. Reavaliando o caso clínico, foi levantado a hipótese de que o primeiro ECG possa ter sido realizado com eletrodo periférico em cima da fístula arteriovenosa da diálise localizado em membro superior esquerdo causando alteração do segmento ST por artefato. Optado então por não realizar exame de estratificação invasiva. Paciente evoluiu bem durante a internação, sem outras intercorrências cardiovasculares.
Conclusão: O supra do segmento ST, muitas vezes sinônimo de IAM, que exige tomada de conduta imediata, pode ocorrer também em outras condições como em outros cenários de emergência ou mesmo em indivíduos assintomáticos. Artefatos simulando alterações do segmento ST no ECG podem ocorrer em paciente renal dialítico com fístula arteriovenosa com o eletrodo posicionado sobre a fistula com caráter pulsátil e de alto fluxo. A elevação da linha de base iniciando antes ou após o QRS e padrão de onda T larga incomum podem ser sugestivos de alteração por artefato. A realização de novo ECG com eletrodos distantes da fístula devem ser sempre lembrados, fundamental para diagnóstico diferencial nestes casos, com implicações importantes para tratamento correto, evitando, assim, condutas potencialmente iatrogênicas.