Introdução: A doença de chagas (DC) aguda tem se tornado cada vez mais frequente, principalmente por transmissão oral, na região Amazônica. Pouco se conhece a respeito da evolução a longo prazo destes pacientes. O presente relato descreve a evolução de 16 anos após diagnóstico e tratamento da fase aguda da DC.
Relato do caso: Paciente do sexo masculino, no momento com 31 anos, procedente de Coari - Amazonas, que, aos 15 anos, iniciou quadro de febre, palpitações, dispneia e dor torácica, com história de ingestão de suco de açaí, sendo diagnosticado com doença de chagas aguda por gota espessa positiva para Trypanosoma cruzi. Observou-se, no ecocardiograma, disfunção sistólica ventricular esquerda com fração de ejeção ventricular esquerda (FEVE) de 50% e presença de extra-sístoles no eletrocardiograma. Recebeu tratamento clínico com benzonidazol, captopril, carvedilol e furosemida, evoluindo de maneira favorável, com negativação dos exames parasitológicos para doença de Chagas e melhora clínica. Após 5 anos assintomático, iniciou quadro de palpitações, apresentando, no Holter 24 horas, ectopia ventricular monomórfica frequente com episódios de bigeminismo ventricular e taquicardia ventricular não sustentada. Descartou-se reativação da fase aguda através de exames imunológicos e parasitológicos. Realizou ecocardiograma com diâmetros ventriculares e FEVE normais, recebendo diagnóstico de forma arritmogênica crônica da DC. Instituiu-se tratamento antiarrítmico com amiodarona (200 mg/dia), com melhora dos sintomas e normalização dos parâmetros eletrocardiográficos.
O paciente não seguiu acompanhamento ambulatorial e, passados 10 anos do último evento, iniciou quadro de dispneia paroxística noturna diária acompanhada de tosse seca e palpitações. Realizou novo Holter que mostrou ectopias supraventriculares raras e ectopias ventriculares isoladas e trigeminadas, monomórficas frequentes. O ecocardiograma demonstrou diâmetro diastólico de VE (DDVE) de 56 mm e FEVE de 37%. Optou-se por otimizar a terapêutica para insuficiência cardíaca (IC) com fração de ejeção reduzida com carvedilol, sacubitril-valsartana, espironolactona, dapagliflozina e furosemida, com melhora do quadro clínico. Um ano após o início da terapêutica para IC, realizou novo ecocardiograma que mostrou DDVE de 60 mm e FEVE de 52%, preenchendo critérios para IC com fração de ejeção recuperada.
Conclusão: O presente relato evidencia a necessidade de seguimento a longo prazo dos pacientes, bem como a introdução precoce de terapêutica otimizada para IC com fração de ejeção reduzida.