Fundamento: Deficiência da lipase ácida lisossomal (LAL-D) é doença rara, autossômica recessiva, com acúmulo de ésteres de colesterol e triglicérides em muitos órgãos, levando a hepatoesplenomegalia, esteatose microvesicular, cirrose e morte prematura. O reconhecimento precoce da condição é fundamental para a introdução apropriada de terapia de reposição enzimática.
Objetivos: Investigar a prevalência de LAL-D em pacientes com dislipidemias e/ou alterações hepáticas, atendidos em serviço terciário e, apresentar quatro casos confirmados usando essa ferramenta de rastreio.
Métodos: Um algoritmo baseado na presença de doença hepática, dislipidemia e disfunção hepática ou alterações lipídicas isoladas foi utilizado para rastrear LAL-D (Fig.1). Acessamos retrospectivamente prontuários eletrônicos de 2.000 adultos com dislipidemia, 92 com fenótipo de hipercolesterolemia familiar sem mutações detectadas, 168 adultos e 18 crianças com disfunção hepática, alterações hepáticas ao ultrassom ou à biópsia. Pacientes de alto risco para LAL-D foram selecionados para atividade enzimática da LAL em DBS (dried blood spots) utilizando o inibidor da LAL, Lalistat-2.
Resultados: De 2.278 pacientes avaliados, 21 (0,92%) foram considerados de alto risco para LAL-D e selecionados para teste da atividade da LAL. Desses, dois adultos e uma criança morreram, dez não responderam e oito pacientes realizaram o teste, mostrando atividade (média, nmol/punch/h) de 0,077, controle negativo 0,096, controle positivo, atividade indetectável (valor referência > 0,024 nmol/punch/h). O diagnóstico post-mortem foi confirmado em uma criança (caso índice), com prevalência de casos confirmados de 0,0438%. Apresentava hepatoesplenomegalia, esteatose microvesicular, deficit de crescimento e diarréia. Segregação familiar identificou três irmãos afetados, apresentando (médias, mg/dL) de colesterol total 194, HDL-c 24, LDL-c 145, triglicérides 161, AST/ALT 52 e 45 U/L, com atividade da LAL (média, nmol/punch/h) de 0,0038 nmol/punch/L/h.
Conclusões: A identificação da LAL-D é desafiadora, porém um algoritmo baseado na presença de hepatoesplenomegalia, esteatose microvesicular, LDL-c levado, HDL-c baixo, elevação de AST/ALT e atividade muito baixa da LAL melhoram a acurácia diagnóstica.