INTRODUÇÃO: A tempestade elétrica apresenta alta taxa de mortalidade principalmente nos primeiros 3 meses. As opções terapêuticas iniciais incluem o uso de drogas antiarrítmicas (amiodarona, lidocaína e propranolol) e conforme refratariedade às terapêuticas iniciais, podemos considerar cardioversão elétrica, implante de marca-passo, modulação do sistema simpático e ablação. A anestesia do gânglio estrelado em tempestades elétricas foi terapia eficaz no controle de arritmias ventriculares, em pacientes tanto com cardiomiopatia isquêmica como não isquêmica e independente da morfologia da taquicardia ventricular, e é utilizada como estratégia de ponte até o tratamento definitivo com ablação.
RELATO DE CASO: Masculino, 73 anos, internado por infarto agudo do miocárdio transmural de parede inferoposterior, com cinecoconarioangiografia evidenciando artéria circunflexa ocluída em terço proximal e artéria coronária direita com oclusão crônica no terço médio, submetido a angioplastia de artéria circunflexa com sucesso. Evolui no dia seguinte ao procedimento com episódio de taquicardia ventricular sustentada (TVS) com frequência de 150bpm, com instabilidade hemodinâmica, sendo submetido a cardioversão elétrica e iniciado amiodarona com controle temporário. No dia seguinte, apresentou episódios recorrentes de TVS monomórfica estável, sem controle após associação de lidocaína e realização de cardioversão elétrica sincronizada. Optou-se pela sedação e implante de marca-passo transvenoso (MPTV) para overdriving pacing com frequência cardíaca de 100 bpm, que também não foi resolutiva, realizada então anestesia do gânglio estrelado guiado por ultrassom a beira leito com solução de ropivacaína e bupivacaína, sem novo episódio de taquicardia ventricular após procedimento, e 3 dias após, foi submetido à ablação epicárdica.
DISCUSSÃO: Um dos pilares para desenvolvimento de TVS é a ativação do sistema autonômico. A maior parte do estímulo simpático para o coração é conduzido através do gânglio estrelado e em alguns casos, o bloqueio beta-adrenérgico e os antiarrítmicos não atenuam os mecanismos indutores de arritmia. Estratégias possíveis para controle da arritmia são instalação do MP com frequência maior que 100bpm para overdriving pacing, bem como a anestesia do gânglio estrelado como maneira de reduzir tônus autonômico, como pontes até a terapia final.
CONCLUSÃO: A anestesia simpático do gânglio estrelado restaura o equilíbrio do sistema nervoso autonômico sendo uma alternativa de baixo risco para estabilização de pacientes em tempestade elétrica.